Agrónoma de formação, Leonor Queiroz e Mello é coordenadora do projeto de “Assistência técnica e reforço das competências da HASATIL e das Organizações da Sociedade Civil de Desenvolvimento Rural” promovido pelo IMVF em Timor-Leste.

Nesta entrevista, a cooperante portuguesa faz um balanço do primeiro ano de atividade do projeto, destaca alguns pontos desta experiência e avalia o momento atual do país.

Terminado o primeiro ano de projeto, o que destacas como principais resultados alcançados?

Este primeiro ano de projeto foi sobretudo de conhecimento mútuo e criação de uma relação de confiança entre o IMVF e os parceiros e beneficiários diretos, as ONG com quem estamos a trabalhar nos distritos. Começámos com um estudo sobre a sociedade civil em Timor-Leste, com especial incidência nos membros da HASATIL, que foi muito importante para conhecermos melhor a Rede e com quem iríamos trabalhar. Com base nesse estudo, foram selecionadas 12 organizações (uma ONG por distrito) que beneficiaram já, no primeiro ano, de um programa de formação comum. Este acabou por ser também um tempo de criação e fortalecimento das relações entre as ONG e o secretariado da HASATIL e também momento de troca de experiências. Foi, contudo, difícil adequar o nível da formação a todas pelo que, no segundo ano, cada ONG está já a beneficiar de um programa de capacitação individual, adequado às suas necessidades.

Como avalias a relação com os parceiros do projeto?

Neste projeto trabalhamos com três parceiros locais: a ETADEP, que tem sido o parceiro do IMVF em Timor-Leste desde o início do nosso trabalho no país, a Belun, uma ONG que trabalha, sobretudo, na área da prevenção do conflito e da capacitação e a Fokupers, uma ONG especializada em assuntos de género. O trabalho com estas organizações tem corrido bastante bem, sendo sempre transversal ao projeto uma componente de capacitação dos próprios parceiros.

Enquanto cooperante de uma ONGD portuguesa em Timor-Leste, que dificuldades e mais-valias destacas nesta experiência?

A minha principal dificuldade tem sido adequar as expectativas e a velocidade a que gostaria de trabalhar à realidade no terreno. O nosso horizonte temporal – que é o do projeto – não é o mesmo que do contexto em que trabalhamos, pelo que nem sempre conseguimos atingir os objetivos atempadamente e com a qualidade que gostaríamos. Estas dificuldades acabam, no entanto, por ser uma mais-valia porque nos obrigam a procurar soluções para questões que, à partida, nem existiriam. Enquanto portuguesa e trabalhando numa ONG portuguesa, sinto que se por um lado os portugueses ainda são muito respeitados e acarinhados pelos timorenses, por outro em termos de ONG internacionais ainda contamos pouco.

Passados quase quatro anos a viver no país, como avalias a evolução económica e social de Timor-Leste. Qual a tua perceção do desenvolvimento do país e quais são, para ti, os seus principais desafios?

Nos últimos um ou dois anos, com os festejos dos 10 anos de independência, com as eleições, Timor-Leste provou ser um país que vai caminhando para a estabilidade. Em termos de infraestruturas, embora ainda haja muito para fazer, começam também agora a notar-se algumas melhorias: mais estradas, maior cobertura de abastecimento de energia… Mas a mim parece-me que o desenvolvimento em Díli se faz a um ritmo muito mais acelerado do que o desenvolvimento nos distritos. A saída das ONG, Nações Unidas, assessores, entre outros, constitui uma oportunidade e ao mesmo tempo um desafio grande para os timorenses, que, cada vez mais, devem assumir o desenvolvimento do seu país. É importante criar condições para que quem estudou fora – e teve já experiências de trabalho e de formação complementar – se sinta motivado a contribuir para o seu país.

Em que áreas achas que a Cooperação Internacional, nomeadamente a cooperação portuguesa, pode marcar a diferença e apoiar o desenvolvimento do país?

Na minha opinião, um dos principais problemas de Timor-Leste passa pela qualidade do ensino. Não sendo especialista na matéria, parece-me que uma das razões está na língua. Os alunos entram na universidade, muitos têm um português elementar, é muito complicado. Assim, quer em termos de ensino formal, quer em termos de formação técnica e capacitação, parece-me que, em especial a cooperação portuguesa pela língua, poderá continuar a dar um bom contributo para o desenvolvimento do país. Sei que esse apoio está a ser dado ao nível do ensino básico e nas universidades, mas acho que o apoio ao ensino da Língua Portuguesa, pela Cooperação Portuguesa, poderia ir um pouco mais além.

Spread the love