Já está em funcionamento a primeira fábrica semi-industrial de transformação de mandioca e produção de derivados em São Tomé e Príncipe. Uma infraestrutura para dinamizar a produção familiar de mandioca e seus derivados e aumentar a disponibilidade deste alimento nos programas de alimentação escolar.

Inaugurada a 16 de outubro, a nova fábrica está já acessível a mais de 50 sócios e pequenos produtores da localidade de Margarida Manuel, no distrito santomense de Mé-Zochi, para a transformação das suas colheitas.

O aumento da insegurança alimentar dos últimos anos em São Tomé e Príncipe, causado pela dependência das exportações do cacau e pelo agravamento da crise alimentar mundial, tem originado forte debate à volta de uma Estratégia Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional que inclua a diversificação das culturas produzidas. Têm-se verificado, no entanto, um desperdício de muitas matérias-primas, principalmente mandioca, milho, frutas e tomate para transformação, pelo simples facto de haver pouco incentivo a essa atividade, e também a falta de acompanhamento e apoios aos produtores e transformadores.

O IMVF, através do Projeto Descentralizado de Segurança Alimentar em São Tomé e Príncipe (PDSA-STP), tem trabalhado no reforço das capacidades de produção, transformação e valorização de diversos produtos agrícolas, entre os quais a mandioca, considerada uma planta completa, fonte de fibra, proteínas e vitaminas.

A nova unidade de transformação, gerida pela Cooperativa “Nova Luz” responde a este desafio, aumentando assim a disponibilidade alimentar na zona: facilita o acesso a farinha de mandioca e derivados, como o pão, bolos e tapioca e tem o potencial de colocar estes produtos ao serviço do programa de alimentação escolar.

Esta última atividade está a ser estudada em parceria com o Governo santomense e o Programa Alimentar Mundial (PAM) com o objetivo de contribuir para uma dieta mais equilibrada das crianças e jovens das escolas básicas e secundárias e favorecer uma maior ligação entre os produtores nacionais e o apoio às escolas e outros grupos vulneráveis da comunidade.

Através desta fábrica, e nas palavras de Celso Garrido, técnico do projeto, “pretendeu-se deixar a lógica de apoiar pequenas infraestruturas individuais, criando uma fábrica com melhores condições de trabalho e de higiene e maior capacidade de produção”. A fábrica iniciou para já a atividade com uma produção média de 300 kg de farinha por dia, quantidade que pode vir a ser aumentada em breve, se necessário.

No momento da inauguração, o Ministro do Plano e Desenvolvimento Económico apelou a que se faça “bom uso das infraestruturas, para que durem o maior tempo possível e sirvam melhor a comunidade”.

Presentes no evento estiveram ainda o Diretor Geral de Agricultura, o representante da União Europeia no Gabão, um representante do PAM, o Presidente da Cooperativa dos Produtores de farinha e de mandioca, entre muitas ONG pertencentes à Rede da Sociedade Civil para a Segurança Alimentar e Nutricional (RESCSAN), apoiada pelo PDSA.

O IMVF acredita que a resolução dos problemas da segurança alimentar em São Tomé e Príncipe passa pelo reforço de capacidades dos vários atores envolvidos, desde as ONG que trabalham as temáticas da segurança alimentar até aos agricultores e as suas associações. Neste sentido, o PDSA tem conseguido assumir-se como um projeto de reforço de capacidades, tendo alcançado em dois anos, dois marcos centrais:

– Apoio ao reforço do papel da RESCSAN e das suas ONG membro, processo que permitiu que a sociedade civil, organizada, promovesse em 2010 um Fórum Internacional sobre Politicas Publicas de Segurança Alimentar, de onde saiu uma proposta da Sociedade Civil para a Elaboração da Estratégia Nacional de Segurança Alimentar;
– Inovação no agroprocessamento, conseguida através da assistência técnica e intercâmbios com o Brasil. Os intercâmbios realizados abriram horizontes aos produtores nacionais, permitindo um conhecimento próximo das tecnologias a implementar em São Tomé, fator decisivo para o seu sucesso.

A inauguração da fábrica, um dos principais investimentos do projeto, permitiu já também alguns benefícios complementares à comunidade de Margarida Manuel, nomeadamente a disponibilidade de energia e de água potável, até aqui inexistentes.

Num futuro próximo, várias ações de formação serão continuadas ao nível da melhoria das técnicas de produção familiar, processamento e armazenamento, com o objetivo de aumentar a qualidade dos produtos locais.

Será ainda desenvolvido um programa de consolidação do funcionamento da Cooperativa bem como de ligação da nova unidade de transformação ao Programa de Alimentação Escolar.

Complementarmente será planeado o reforço da divulgação desta nova unidade de transformação, como forma de divulgar os produtos, agregar valores à produção local e ampliar as oportunidades de geração de trabalho e renda para a população rural.

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