A União europeia (UE) publica anualmente um Eurobarómetro dedicado a questões do desenvolvimento, onde se analisam as opiniões dos cidadãos europeus sobre a relevância e a eficácia da contribuição europeia para o desenvolvimento global. Entre os principais dados e tendências do Relatório deste ano, salientam-se aqui alguns pontos importantes sobre as respostas nos 27 Estados Membros inquiridos e, particularmente, sobre os resultados em Portugal:
A solidariedade global e apoio ao desenvolvimento continuam a ser considerados importantes. 83% dos inquiridos, contra 85% no ano passado, pensam que é importante ajudar as populações nos países em desenvolvimento (no caso de Portugal, a percentagem sobe para os 86%). Em contrapartida, o número de pessoas favoráveis a um aumento da ajuda da UE de acordo com os compromissos internacionalmente assumidos permanece estável, situando-se nos 61%. A crise económica em vários países europeus não parece ter influenciado muitos estes dados, já que enquanto na Grécia há um aumento de 10% naqueles que acham que a UE não deve aumentar a ajuda ao desenvolvimento, na Espanha verifica-se um acréscimo de 11% exatamente no sentido contrário. Quase sete em cada dez pessoas (69%) consideram que ajudar estes países é também positivo para a UE e beneficia os seus cidadãos, sendo que em Portugal essa percentagem sobe para os 73%.
O empenhamento pessoal em favor do desenvolvimento é cada vez forte. 48% dos Europeus estão dispostos a pagar mais por produtos alimentares e outros produtos se tal ajudar os países em desenvolvimento, ou seja, um aumento de 4 pontos percentuais desde 2012. Esta progressão é muito significativa em alguns dos países fortemente afetados pela crise económica: Irlanda (47%, +12), Letónia (27%, +8) e Espanha (+7). No entanto, em Portugal uma vasta maioria – 78% – declara não estar disposta a pagar mais por esses produtos.
Uma maioria considera que o desenvolvimento global é uma responsabilidade da União Europeia mas não dos seus países: se a maioria dos inquiridos (66%) pensa que a luta contra a pobreza nos países em desenvolvimento deve figurar entre as principais prioridades da União Europeia, apenas 48% pensam que esta deve ser uma das principais prioridades do governo do seu país. Em Portugal, as opiniões dividem-se: 48% acha que a luta contra a pobreza nos países em desenvolvimento deve ser uma prioridade do Governo, enquanto a mesma percentagem exprime opinião contrária.
A perceção que os cidadãos europeus têm sobre a pobreza no mundo é distorcida ou revela desconhecimento. Só aproximadamente um em cada dez inquiridos (12%) estima corretamente o número de pessoas no mundo que vivem com menos de 1 dólar por dia (entre 500 e 1000 milhões de pessoas). No caso de Portugal, a percentagem de pessoas que declara não saber como responder é muito superior à média europeia (32% contra 18% na Europa dos 27).
As prioridades para o desenvolvimento global parecem refletir aquilo que são as preocupações dos cidadãos europeus num contexto de crise económica e de altas taxas de desemprego. Assim, os cidadãos da UE consideram que, no futuro, a política de desenvolvimento deverá centrar-se no emprego (44% dos inquiridos) e no crescimento económico (31%), continuando também a saúde (33%) e a educação (30%) a ocupar lugares cimeiros nas prioridades. A igualdade de género figura no fim da lista, sendo apontada como prioridade apenas por 6% dos inquiridos. No caso português, o emprego é ainda considerado mais importante (63%), seguido da saúde (43%) e do crescimento económico (41%).
Os jovens sentem-se especialmente interpelados pelos problemas do desenvolvimento e empenhados em resolvê-los. Consideram, em especial, que podem contribuir a título individual para a luta contra a pobreza nos países em desenvolvimento. 61% dos jovens europeus com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos partilham esta opinião, mas só 45% das pessoas com mais de 55 anos têm o mesmo ponto de vista. 53% dos jovens na faixa etária referida estão dispostos a pagar mais pelos produtos se tal permitir ajudar os países em desenvolvimento. Entre os inquiridos, são também os jovens os que têm mais tendência para pensar que a luta contra a pobreza nos países em desenvolvimento deve ser uma das principais prioridades da UE e dos governos dos seus próprios países.
O desconhecimento relativamente aos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio é muito elevado: só um pequeno número de inquiridos na União Europeia (6%) ouviu falar dos ODM e sabe em que consistem. Os número variam muito, já que por exemplo na Suécia e na Holanda, respetivamente, 44% e 42% dos inquiridos afirmam conhecer os ODM. Em Portugal, 74% declara que nunca ouviu falar dos ODM e 20% reconhecem que ouviram falar mas não sabem bem o que são (só 5% afirma conhecê-los). Quando confrontados com os ODM em concreto, os europeus consideram que a erradicação da pobreza extrema e da fome é o objetivo mais difícil de alcançar (48% assim o apontam), sendo os portugueses ainda mais pessimistas relativamente a este objetivo (62%).
Eurobarómetro e os dados sobre Portugal.
Pode ainda ver as sessões dos Dias Europeus do Desenvolvimento, que tiveram lugar a 26 e 27 de novembro em Bruxelas e que este ano foram dedicados ao desenvolvimento no período pós-2015 aqui.