O IMVF foi um dos parceiros e membros da comissão de honra do Congresso iMed5.0 – Innovating Medicine, apoiando esta iniciativa anual através da atribuição de estágios médicos, no âmbito do projeto Saúde para Todos, em São Tomé e Príncipe. Maria Catarina Damásio e Marta Pimenta foram uma das três duplas de jovens que carimbaram o passaporte para duas semanas de estágio em cuidados de saúde primários e que relatam a sua experiência no terreno, mostrando a importância desta iniciativa na formação de um jovem médico.

As duas estudantes do 6º ano de medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa venceram a Clinical Mind Competition, uma competição que consiste em testar o raciocínio médico através da resolução de casos clínicos apresentados em tempo real. Com o intuito de contribuir para a formação pessoal e curricular de jovens estudantes de Medicina este congresso reuniu médicos e cientistas internacionalmente reconhecidos pelo seu contributo para a inovação nas ciências médicas que intervieram em conferências e sessões científicas.

O contacto com diferentes paradigmas de doença, meios de diagnóstico e terapêuticas aliado a uma experiência enriquecedora a nível pessoal foram aspetos realçados por parte do IMVF na carta de aceitação ao convite endereçado pela Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, enquanto fatores de crucial importância na formação de um médico.

Sob orientação da Delegada de Saúde da Área de Lembá, Dra. Maida Ramos, as duas jovens realizaram cuidados de saúde primários no Centro de Saúde de Neves e no Posto de Saúde de Santa Catarina, desempenhando uma atividade clinica autónoma. “As necessidades de saúde em São Tomé e Príncipe são enormes, o tipo de doenças são as mesmas que temos em Portugal, embora também haja uma prevalência de doenças que não acontece cá, como por exemplo as doenças infeciosas, que lá têm um impacto enorme e que cá conseguimos controlar desde o início”, afirma Catarina.

Após algumas reuniões e passeios para conhecer a ilha com o acompanhamento indispensável do coordenador do projeto Saúde para Todos em São Tomé e Príncipe, Dr. Edgar Neves, Catarina e Marta rapidamente iniciaram funções e, entre o primeiro impacto e a realidade, constataram as muitas necessidades e a falta de alguns recursos, como de água canalizada no centro de saúde. Nessas alturas, o pensamento de Marta era: “Vou dar o máximo com os recursos que tenho”.

A jovem médica considera que foi “mais benéfico e útil” terem realizado o estágio em cuidados de saúde primários pois, não sendo ainda especialistas, tiveram oportunidade de ter contacto com uma quantidade de patologias muito maior. Com poucos médicos a exercer no país, as jovens contam que muitas vezes os enfermeiros assumem as funções dos médicos pelo que, dependendo do tipo de atividade, diariamente chegavam a fazer mais de 15 consultas.

Da teoria à prática 

A necessidade de tomar decisões de forma rápida e consciente foi algo com que tiveram que lidar desde o primeiro dia de trabalho, pondo à prova os seus instintos médicos e a sua capacidade de improviso. “Devido à falta de recursos logísticos e terapêuticos tínhamos que ter o nosso raciocínio clínico a mil. Embora cá seja igualmente necessário esse raciocínio para chegar a alguma hipótese de diagnóstico, temos sempre a ajuda de um médico mais velho ou de um exame complementar de diagnóstico. Lá só podíamos contar com aquilo que sabíamos, com a parte teórica”, afirma Catarina Damásio. “Éramos constantemente postas à prova, aquilo que fiz só tinha visto fazer. Sabia na teoria, mas colocar na prática foi um grande desafio”, conta Marta.

Marta relata um dos casos que mais a marcou pela força e resistência à dor por parte de um jovem são-tomense de 18 anos. A estudante de medicina viu-se confrontada com a necessidade de drenar um abcesso numa das mãos do jovem que estava já bastante infetada. “Cá seria feito no bloco operatório com anestesia geral”, afirma. E acrescenta. “Eu acho que me estava a doer mais a mim do que a ele”.

“Foi um desafio enorme, e foi também a forma de nós percebermos se estamos na profissão certa ou não”, afirma Catarina. De tal forma que no futuro gostavam de voltar como médicas especialistas integrando uma missão. “Gostava de voltar, mas noutras circunstâncias. Sinto que esta experiência me deu muito mais a mim do que eu dei àquela população”, afirma Marta. “Indo lá e vendo as necessidades que há de serviços de saúde, de tudo, é impossível não ter vontade de voltar porque de facto a população precisa muito”, afirma Catarina.

Sobre o trabalho do IMVF em prol da saúde dos são-tomenses, as duas jovens são unânimes a afirmar a importância do papel da organização no país. Enquanto médicas estagiárias tentaram deixar o seu “legado” e dar alguma formação, mas acima de tudo reconhecem o agradecimento e respeito que os são-tomenses têm pela figura do médico. “Foi muito gratificante, sentimos que a nossa presença não foi indiferente às pessoas. Estávamos a prestar cuidados de saúde e isso também ajudava a que todos os dias, no meio daquele calor, tivéssemos força para trabalhar”, afirma Catarina.

Os estágios iMed encontram-se a decorrer desde maio e têm levado a São Tomé e Príncipe as restantes duplas de vencedores da Clinical Mind Competition: Inês Figueiredo e Maria Isabel Rebelo e Joana Carvalho e João Rafael Mendes. Com o intuito de ser um espaço de partilha e de debate sobre inovação entre especialistas e estudantes da área das ciências da vida, convidados a intervir através de workshops hands-on e de competições, a 5ª edição deste congresso foi organizada pela Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa (AEFCML) e apoiada pela Universidade NOVA de Lisboa, pelo Centro de Estudos de Doenças Crónicas (CEDOC) e pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade NOVA de Lisboa, tendo decorrido entre os dias 11 e 13 de outubro de 2013 na Reitoria da Universidade Nova em Lisboa.

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