O projeto Ká-Amubá (“construir oportunidades”) – Promoção de Tecnologias de Economia Solidária em áreas de Quilombos, no Maranhão tem, desde 2013, contribuído para a redução da pobreza e para a promoção do Desenvolvimento socioeconómico das comunidades Quilombolas, indo ao encontro das necessidades específicas destas comunidades, no estado do Maranhão, considerado um dos mais pobres do Brasil.
Este projeto tem promovido o aumento da geração de renda familiar e a melhoria das condições de salubridade das comunidades Quilombolas do Maranhão, apostando no reforço da produção, transformação e comercialização dos produtos locais, tendo como base princípios de economia solidaria e inclusão social.
Implementado pelo IMVF e pela ACONERQ – Associação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas do Maranhão e cofinanciado pela União Europeia e pelo Camões, I.P., o projeto recebeu, no final de junho de 2016, a primeira visita oficial do embaixador da União Europeia no Brasil, João Gomes Cravinho.
A atuar no Brasil desde 2001, o IMVF centra a sua intervenção na promoção dos Direitos Humanos junto de comunidades mais vulneráveis no Brasil, como os Quilombolas, promovendo a valorização da sua cultura e a inserção dos produtos produzidos por estas comunidades no mercado brasileiro. É nos Quilombos que são visíveis as formas tradicionais do uso da terra, os costumes e manifestações culturais e religiosas dos Quilombolas. Todavia, estas comunidades, especialmente no estado do Maranhão, encontram-se, desde sempre, entre as mais vulneráveis e marginalizadas no seio da sociedade brasileira, apresentando Índices de Desenvolvimento Humano entre os mais baixos do país.
Saiba mais sobre o trabalho desenvolvido por este projeto através daqueles que dele fazem parte:
Francisco Carlos da Silva, presidente da Cooperquilombola
“Um dos desafios da cooperativa Cooperquilombola é o de garantir a sustentabilidade dos projetos implementados com a colaboração da União Europeia. É necessário garantir o espaço de armazenamento da produção, tendo em vista que os cooperados estão divididos entre 12 municípios e em diferentes regiões do Maranhão. Existe a necessidade de concentrar os produtos num local comum, para, a partir daí, irmos à procura do comprador. Para isso são necessários recursos para garantir o funcionamento do espaço, que teria uma dupla utilidade: funcionaria como armazém e como escritório para a negociação da venda dos produtos.
Um dos desafios da nossa cooperativa é a capacitação dos jovens e a sua formação para que sejam os futuros gestores da cooperativa. Temos que trabalhar na sua conscientização para que conheçam os benefícios da cooperativa. Atualmente, os nossos jovens estão ociosos por não terem uma ocupação nem uma fonte de renda específica na comunidade e emigram para outros Estados, onde não poupam, não trabalham em benefício da família, nem da comunidade e, muitas vezes, nem em benefício próprio. Ao trabalharem na cooperativa, que opera em regime de economia solidária, trabalham para todos, asseguram uma renda para eles e para a comunidade e isso fortalece o sentimento de pertença àquela comunidade. Permite fortalecer os seus conhecimentos e manter os laços históricos e tradicionais com os nossos antepassados”.
Emília Santos, vice-presidente da Cooperquilombola
“Os desafios para a mulher Quilombola? São todos! Primeiro porque é mulher. Segundo porque é negra. E ser negra e Quilombola é muito difícil. É difícil aceder às políticas públicas, ao crédito, à saúde, à educação. As mulheres são a força da comunidade Quilombola. Fazemos tudo: lavoura, extrativismo. E, quando falamos na questão fundiária, é ainda mais difícil. Porque um Quilombola sem território não é nada. O que afirma a nossa verdadeira identidade são os nossos territórios, os nossos valores, os nossos costumes”.
Maria José Palhano Silva, coordenadora geral da ACONERUQ
“Quando perguntei ao Sr. Manuel Moura da comunidade Quilombola de Jenipapo, município de Caxias, como estava a correr a horta, ele respondeu: “Estamos vivendo dela”. E isto nos emociona, saber o impacto do projeto”.
Valderlene Silva, diretora executiva do projeto Ká-Amubá
“Lidamos de forma diferenciada com cada comunidade. Temos de ter em atenção as principais características de cada uma. Uma metodologia não pode ser usada em todas as comunidades e, muitas vezes, mesmo dentro de cada comunidade usamos metodologias diferentes para famílias diferentes. O importante é saber ouvir as pessoas, escutar as suas necessidades e dar respostas diferenciadas”.
Saiba mais sobre o projeto Ká-Amubá – Promoção de Tecnologias de Economia Solidária em áreas de Quilombos, no Maranhão que foi considerado uma boa-prática no desenvolvimento de metodologias participativas pelo Governo do Maranhão, pela FAO e pelas Nações Unidas aqui e através do website Quilombos Contemporâneos e da página de facebook do projeto.