O Ciclo de Cinema Economia Social e Solidária arrancou em Gaia, na MANIFesta 2016, e estará proximamente em Lisboa. O programa de Gaia foi calorosamente recebido pela Cooperativa 3+ arte, um espaço de criação, atento à comunidade, onde muitos artistas encontram hoje a oportunidade de desenvolver e divulgar os seus trabalhos. Foi aí que foram exibidos a curta-metragem turca “Gente Extraordinária“, de Orthan Tekeoglu, dia 9 de novembro, e o documentário brasileiro “Palmas”, de Edlisa Peixoto, dia 10.
Entre a criatividade e a resiliência das pessoas que vivem mais isoladas, vemos nascer soluções para problemas do dia-a-dia, sem esquecer a sabedoria local. Gestos que fazem perceber que não há desenvolvimento possível sem envolver as comunidades a quem o desenvolvimento diz respeito. Por isso, a língua assobiada turca (kus dili) inventada pelos habitantes de Ku?köy, no norte da Turquia, responde às necessidades de se comunicar numa zona de difíceis acessos. Tal como o Banco “Palmas”, criado pelos moradores do Conjunto Palmeiras, em Fortaleza, ajuda-os a encontrarem resposta para as suas necessidades de poupança, consumo e crédito.
E é esta efervescência que passa. Que nos surpreende e inquieta. Entre a força das imagens e as ideias trocadas, aconchegadas nas noites frias por sorrisos e um delicioso chá, estes exemplos de vida interpelaram-nos em Gaia para refletir e agir sobre a nossa realidade. Aquela que está aqui, bem ao nosso lado.
A Economia Social e Solidária e os ODS 2030
Que cidadãos queremos ser? Que mundo edificar nesse sentido? E se a meta fosse 2030? No workshop promovido dia 9 de novembro pelo IMVF, no âmbito do projeto SSEDAS – Economia Social e Solidária, durante a MANIFesta, em Gaia, alunos do mestrado de Sociologia da Universidade do Porto e profissionais de diversas áreas – como psicologia da educação, serviço social, desenvolvimento local e educação de infância – procuraram dar resposta a estas questões.
Aceitando o desafio lançado por Paulo César Costa, os participantes refletiram sobre a forma como a Economia Social e Solidária pode contribuir para o cumprimento dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Objetivos abrangentes e ambiciosos na necessidade de se alcançarem 169 metas e monitorizarem complexos indicadores, para o desejado e necessário equilíbrio entre as dimensões social, económica e ambiental do desenvolvimento.
A tarefa não é fácil e não dispensa um sentido crítico.
Por um lado, a educação para a cidadania poderá contribuir para a sensibilização dos cidadãos para os objetivos de desenvolvimento sustentável, concertados ao nível das Nações Unidas, e a economia solidária – próxima das pessoas – encontra-se numa posição privilegiada para aproximar os recursos disponíveis das necessidades locais. Aqui, a educação deverá ser mais focada na colaboração que ajuda a descobrir o lugar de cada um e menos focada na competição que tende a deixar para trás quem tem mais dificuldades. Por outro lado, no que concerne à cooperação para o desenvolvimento, a participação comunitária e a escola como lugar de agregação revelam-se basilares para envolver a comunidade nos assuntos que lhe dizem respeito.
O comércio justo, apostando no 12º ODS – produção e consumo sustentáveis – foi uma das áreas da economia solidária destacadas nos trabalhos de grupo do workshop. Paralelamente, foi abordado o importante trabalho realizado pelas cooperativas, para o qual a rentabilização dos recursos e as políticas locais serão determinantes, seja na continuidade da sua ação seja na criação de novas oportunidades.
Por Âmago Multimédia