A Prof.ª Doutora Cristina Caroça, médica de Otorrinolaringologia no Hospital CUF Infante Santo, em Lisboa, que integra as missões médicas desta especialidade a São Tomé e Príncipe, no âmbito do Saúde para Todos, apresentou a sua tese de doutoramento sobre o contributo para o estudo de fatores epidemiológicos associados à surdez neuro sensorial na população de São Tomé e Príncipe, no dia 31 de outubro de 2017, no Centro Cultural Português.
“O início do estudo surgiu logo na 1.ª missão [em fevereiro de 2011], a partir do momento em que começámos a diagnosticar uma elevada prevalência de surdez neuro sensorial (irreversível) nos indivíduos que vinham à consulta”, conta. A entrada para o programa de doutoramento aconteceu em outubro de 2011 e a aprovação do projeto de investigação pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa aconteceu 2 anos depois.
Este projeto de investigação, que contou com a orientação do Prof. Doutor João Paço, chefe de missão da especialidade de Otorrinolaringologia do projeto Saúde para Todos, pretendeu não só analisar o contributo de vários fatores epidemiológicos para a surdez, como simultaneamente atuar numa vertente humanitária e de saúde pública com a formação, prevenção, assim como para uma melhor integração e adaptação da população.
Balanço do estudo:
– Conhecimento da autoidentificação da surdez da população. Verificou-se que apresentam um bom reconhecimento, importante para um país que não possui exames audiométricos disponíveis sem ser aquando das missões médicas da especialidade;
– Implementação da vacina da rubéola. De extrema importância, não só pela surdez, como também por alterações oftalmológicas e cardíacas, que estão associadas a esta patologia durante a gravidez;
– Avaliação real das principais hemoglobinopatias na população de São Tomé e Príncipe. O défice de glucose-6-fosfato desidrogenase (G6PD) está em desequilíbrio na população (uma prevalência muito elevada, atribuível ao facto de proteger para a malária), havendo a necessidade de alertar a população para este problema e para a necessidade de rastreio da G6PD, alertando para eventuais complicações sistémicas que possam estar associadas a esta alteração;
– Avaliação das principais mutações genéticas. Tentar despistar a influência de povos europeus e eventual consanguinidade da ilha – que se revelou negativo;
– Identificação da história de infeção por malária como um fator etiológico para a surdez.
Segundo a Prof.ª Doutora Cristina Caroça “o balanço tem sido positivo, a população está cada vez mais consciente do problema e tem maiores cuidados, mesmo com as otites médias crónicas.”
A primeira missão de Otorrinolaringologia teve lugar em fevereiro 2011 e desde então têm sido regulares as idas de profissionais de saúde desta especialidade a São Tomé, no âmbito do Saúde para Todos, num total de 23 missões médicas até ao momento ao arquipélago são-tomense.