
A campanha #ClimateofChange está empenhada em melhorar o conhecimento e a consciencialização dos jovens cidadãos europeus sobre o tema da emergência climática e, como tal, lançou um desafio a várias escolas e instituições do ensino superior do país: os “Torneios de Debates – Expõe a tua ideia!”.
Mais do que um debate, o ambicioso objetivo do “Torneio de Debates – Expõe a tua ideia!” é promover um espaço de democracia e cidadania, que permite aos participantes aprenderem a expressar-se, comparando os seus argumentos num contexto de regras compartilhadas e respeitando um tempo e espaço iguais. O arranque do torneio deu-se a 19 de janeiro, via Zoom, entre as 9h e as 13h, com os alunos da Licenciatura de Educação Ambiental e Turismo da Natureza, da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Santarém.
As três moções diferentes levadas debate permitiram abordar as interligações temáticas entre alterações climáticas e outros temas chave da cidadania global. E porque cada moção teria de ter um vencedor, que no final será o representante do Instituto Politécnico de Santarém na final dos debates a nível nacional, foi constituído um júri conhecedor dos temas. Assim, no painel do júri contámos com Elisabete Linhares, professora na Licenciatura de Educação Ambiental e Turismo da Natureza, da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Santarém; Ana Castanheira, coordenadora da Unidade de Cidadania Global do IMVF e Margarida Filipe Ramos, mediadora cultural.
O torneio decorreu em 3 partes distintas, cada uma delas correspondente a uma das 3 moções levadas a debate, moderadas por Diogo Silva, ativista climático. Cada equipa contou com um líder, dois oradores principais e os restantes membros, que participaram na parte livre do debate.
PRIMEIRA MOÇÃO
A primeira moção ditou que o desperdício alimentar influencia decisivamente as alterações climáticas, contando com a equipa dos Agrobetos numa posição a favor e equipa dos Bambu contra. Notou-se o entusiasmo e a dedicação destes jovens no debate de temas tão atuais e urgentes, compreendendo a problemática a fundo, mesmo tendo de defender uma posição diferente da sua.

A equipa dos Agrobetos arrancou em força com dados da ONU que nos indicam que 10% dos gases responsáveis pelo efeito de estufa resultam do desperdício alimentar e que 28% da comida cultivada não chega ao consumidor, resultando num desperdício de água de 21%. Assim, o desperdício alimentar pressupõe o uso de grandes áreas florestais destruídas para cultivo, colocando um vasto leque de espécies em risco de extinção, e o uso abusivo de pesticidas, que tem um grande impacto negativo na camada do ozono. Para complementar esta ideia, apresentaram dados da FAO – Food Agriculture Organization, acrescentando que, não só o consumo de água é esmagador, como são necessários vários aterros sanitários e, mesmo assim, continua a haver um desequilíbrio enorme, a nível mundial, entre pessoas com obesidade e tantas outras subnutridas. Para terminar, esta equipa deixou o aviso de que, anualmente, 1,3 milhões de toneladas de comida vão para o lixo, e que isto é visto como uma banalidade.

Os opositores, Bambu, contra-argumentaram. Utilizaram os dados do Painel Intergovernamental das Ações Climáticas que sustentam a ideia de que grande parte das alterações climáticas se devem aos gases poluentes, provenientes de combustíveis fósseis, fazendo com que a agricultura passe a ser a segunda maior contribuinte para as alterações climáticas. Refutaram assim, o argumento de que não é o desperdício alimentar, e todos os efeitos que lhes são inerentes, o maior causador do que estamos a viver.
Esta equipa reforça ainda que “se à agricultura corresponde uma tão baixa percentagem de poluição, comparativamente, então os Governos devem sim preocupar-se com a indústria e o setor da energia, enquanto reais responsáveis”. Em países como a China, o Japão e a Índia é muito mais significativa a peso das energias nas alterações climáticas do que o desperdício alimentar. Este fenómeno leva a migrações por infeções respiratórias, obriga ao uso de máscaras devido à má qualidade do ar, que chega mesmo a ser irrespirável, e traduz-se tanto em chuvas ácidas, como em partículas no ar que diminuem a radiação solar e condicionam a evaporação da água. Assim, por ano, chegam a morrer 30 milhões de pessoas devido à poluição atmosférica, um número crescente.
Com foco na questão da exploração mineira com recurso ao mercúrio e no facto de a China estar prestes a construir várias novas centrais de energia com base em combustíveis fósseis, o que vai contra o Acordo de Paris, os Bambu saíram deste duelo vencedores. Fica a mensagem de que se estima que em 2080 os solos não poderão ser usados para efeitos agrícolas, e que ainda antes desta data o aquecimento global irá comprometer a existência da vida humana conforme a conhecemos.
SEGUNDA MOÇÃO
Para a segunda moção que ditava que o decréscimo económico é essencial para mitigar os efeitos das alterações climáticas defrontaram-se as equipas Biodegradáveis, a favor desta ideia, e os Buraka contra.

A equipa dos Biodegradáveis, repleta de girl power, deu início a este duelo, começando por desconstruir a ideia de que os recursos naturais são limitados, logo o crescimento económico não pode ser infinito. Vivemos num sistema económico que tem por base a dívida e crescemos para a pagar, mas precisamos também dela para crescer e este círculo vicioso é um paradigma errado que tem de ser mudado. Nas palavras da porta-voz desta equipa, “queremos uma economia verde, que conserve o ambiente e os seus recursos, portanto defendemos um decréscimo sustentável. Necessitamos de mudanças individuais como a redução das horas de trabalho, a limitação de salários para diminuir a desigualdade e a redução do desperdício alimentar”. A equipa proclama que deve haver mais preocupação com o ambiente e não tanto com a parte económica, com medidas urgentes como a alteração para energias verdes e a substituição do plástico por materiais amigos do ambiente. Deixaram ainda um aviso: enquanto o PIB (Produto Interno Bruto) continuar a crescer haverá sempre mais poluição e a consequência direta será sempre um maior impacto nas alterações climáticas. Se a humanidade continuar somente a olhar para si própria, deixará de haver ambiente e já não existirá vida com que nos possamos preocupar.

Do lado contrário desta mesa invisível, foi a vez dos Buraka intervirem. Composta por um leque masculino, esta equipa defendeu que é necessário haver capitalismo para que haja investimento em energias renováveis. Para estes cidadãos do futuro, “A zona de conforto nas empresas são as energias fósseis porque é um investimento forte, então não se consegue melhorar o efeito da crise climática sem prejudicar pessoas, pois não há capital suficiente para investir em energias verdes”.
Será sempre difícil e faltará coragem às pessoas para perderem tudo o que o crescimento económico lhes deu, desde a qualidade de vida ao conforto, passando por um sistema de saúde e outras comodidades que já são consideradas básicas no nosso dia a dia. Apoiando-se no gráfico invertido, a equipa dos Buraka defende que o ambiente tem de chegar a um ponto máximo de poluição para poder declinar e tornar a conservação do ambiente a prioridade máxima. Este fenómeno traria muitas consequências, como uma crise económica, o desemprego e menos condições humanas. Como muitas empresas conseguem prever este quadro crítico, torna-se uma tendência ver o clima como algo importante, mas valorizar mais o bem-estar humano. Para terminar este debate, remataram com a ideia de que se não existir evolução económica não é possível ajudar o ambiente. Será necessário crescer o suficiente para investir na mudança. Este foi um confronto muito intenso no qual o júri deu a vitória aos Biodegradáveis.
TERCEIRA MOÇÃO
Já a manhã ia longa quando chegou a hora da terceira moção: a transição energética para as energias verdes contribui decisivamente para a mitigação dos efeitos climáticos, com os Ambiente Melhor a favor e os Ambientalistas contra.

Os Ambiente Melhor aprovam as energias verdes, desvalorizando os combustíveis fósseis, de forma a que alcancemos um desenvolvimento económico em parceria com energias sustentáveis. A seu favor trouxeram o argumento de que as energias ditas limpas não produzem gases responsáveis pelo efeito de estufa e conseguem criar três vezes mais postos de emprego do que as energias fósseis, trazendo inúmeras vantagens, desde a empregabilidade a uma maior acessibilidade de preço energético. Como exemplo, destacaram os países de vasta área costeira, pois estes contam com a previsibilidade das marés e a energia que conseguem produzir a partir delas. Segundo os elementos da equipa: “Neste momento, o consumo de energias renováveis já supera o consumo de energias não renováveis”. Este é um tema que daria pano para mangas, mas esta equipa não quis perder um segundo e atacou os seus adversários para que se justiçassem sobre os desastres ambientais causados por energias não limpas, como as centrais nucleares, e o famoso caso de Chernobil.

Os Ambientalistas, a última equipa a entrar em cena neste “Torneio de Debates – Expõe a tua ideia!”, começaram por explicar o seu ponto de vista antes do ataque certo. Para estes jovens, a transição das energias fósseis para as energias verdes é uma aposta errada, pois estas são vistas como amigas do ambiente, mas têm um lado negro e não são uma solução definitiva. Para além disso, são necessários inúmeros equipamentos e recursos e a destruição do ambiente é clara. Um tópico intenso trazido a debate foi o da poluição das águas usadas pelas populações e a presença de elevadas quantidades de radioatividade, sendo que ambas conduzem ao aparecimento de cancro. “Estas descargas são responsáveis pela destruição de populações inteiras e contaminam-lhes bens preciosos como os solos e as águas”. Lançaram farpas aos seus opositores com uma questão sobre a queda de um gerador eólico: quão grande seria o impacto nas pessoas e no ecossistema? Ou como chegariam os bombeiros a 100m de altitude para apagar incêndios em ventoinhas? Várias soluções foram colocadas em cima da mesa, neste aceso duelo entre ambas as equipas, mas só uma podia sair vencedora, pelo que o troféu foi atribuído aos Ambiente Melhor.
No rescaldo deste evento ficou o sentimento mútuo de aprendizagem e a vontade de trabalhar para um futuro melhor, mais justo e sustentável. Os grandes vencedores do dia foram os Biodegradáveis, mas a nível individual ficou um sabor a vitória, quer pela experiência, quer pelo entusiasmo para uma próxima atividade.
O IMVF vai continuar a levar às escolas e universidades esta iniciativa e agradece a todos os envolvidos a vontade de encontrar soluções para esta problemática tão urgente que é a das alterações climáticas.