Mais de 200 mulheres reuniram-se no dia 31 de janeiro de 2025, no Bairro Militar, para a 3.ª Roda de Mulheres, organizada pelo Observatório da Paz – Nô Cudji Paz, em parceria com o Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos e o Fórum de Intervenção Social das Jovens Raparigas (FINJOR). Sob o tema “Mindjer I Firkidja di Paz” (A Mulher é Guardiã da Paz), o evento celebrou o Dia da Mulher Guineense – Heroínas Nacionais, promovendo o diálogo sobre a igualdade de género e o papel das mulheres na construção da paz.
A cerimónia de abertura contou com a presença da Ministra da Justiça e dos Direitos Humanos, Dr.ª Maria do Céu Silva Monteiro, do Embaixador de Portugal, Dr. Miguel Cruz Silvestre, e do representante do Embaixador da União Europeia, Dr. Carlos Abaitua Zarza. Também participaram a Embaixadora Ngozi Ukaeje, representante da CEDEAO na Guiné-Bissau, Gedeon Behigium, representante da Coordenadora Residente do Sistema da ONU, e o Diretor Nacional da Polícia Judiciária, Dr. Domingos Monteiro Correia.
Desafios e caminhos para a igualdade
No seu discurso, a Ministra da Justiça e dos Direitos Humanos destacou que “a exclusão e discriminação das mulheres são baseadas na lógica do poder patriarcal, refletidas em fenómenos como a mutilação genital feminina, a violência doméstica, o casamento precoce, o acesso limitado a recursos como terras e créditos, a fraca representação institucional e a desigualdades na justiça e na economia”. Face à quadratura, reforçou que iniciativas como a Roda de Mulheres demonstram a determinação da Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) e do Instituto Marquês Valle Flôr (IMVF) em apoiar os esforços governamentais para consolidar a paz e a estabilidade no país.
A Ministra também anunciou que o governo aguarda “com expectativas o início das ações conducentes à elaboração da Estratégia Nacional de Prevenção do Radicalismo Violento [no quadro do Observatório da Paz], um instrumento indispensável para reforçar a coesão nacional e consolidar a paz e o respeito pela dignidade da pessoa humana”.
O Embaixador de Portugal, Dr. Miguel Cruz Silvestre, reforçou o compromisso do seu país na promoção da igualdade de género. “Os desafios enfrentados pelas mulheres em todo o mundo, incluindo na Guiné-Bissau, como a violência baseada no género, a exclusão das esferas de decisão e as desigualdades estruturais, exigem ações concretas e contínuas”, afirmou. Acrescentou que “esta luta não pode ser travada apenas pelas mulheres; é fundamental que os homens reconheçam o seu papel na desconstrução de padrões culturais que perpetuam desigualdades”.
Para o Dr. Carlos Abaitua Zarza, adido para a cooperação da União Europeia, o aumento da radicalização e do extremismo entre os jovens pode resultar num agravamento da violência baseada no género. “Todos os projetos financiados pela UE na Guiné-Bissau garantem que as mulheres não sejam apenas envolvidas, mas tenham um papel de liderança”, sublinhou.
Mulheres na linha da frente da mudança
O Presidente da LGDH e coordenador local do Observatório da Paz, Dr. Bubacar Turé, enfatizou o papel fundamental das mulheres na sociedade guineense. “Apesar do desprezo, da normalização da violência e da discriminação, as mulheres da Guiné-Bissau continuam a ser pilares essenciais da nossa economia, democracia e consolidação da paz”, afirmou. Turé acrescentou que “como guerreiras que são, as mulheres guineenses têm resistido e rejeitado todas as tentações que visam fraturar o nosso tecido social através da proliferação de discursos de ódio, dando primazia à coesão social e à paz.”
Desde 2022, o projeto tem realizado ações de formação para líderes religiosos, jornalistas, mulheres, jovens, forças de segurança e funcionários públicos, além de campanhas de sensibilização nas comunidades e programas radiofónicos de educação cívica, beneficiando cerca de três mil pessoas.
A coordenadora da FINJOR, Muscuta Fati, defendeu a educação como ferramenta essencial para a emancipação feminina. “Acreditamos que o desenvolvimento de qualquer nação só é possível com a promoção da igualdade de género. Apesar dos desafios, devemos apostar numa educação inclusiva e de qualidade para todas as meninas guineenses”, afirmou.
Debates e cultura em destaque
A 3.ª Roda de Mulheres promoveu debates sobre a integração do género na prevenção do radicalismo e do extremismo violento, o papel das mulheres no espaço público e os impactos da violência baseada no género na coesão social. O evento foi marcado por intensa participação, troca de ideias e atuações culturais, incluindo apresentações de grupos comunitários, do icónico grupo Netos de Bandim e do músico Binhan Quimor, que encerrou o encontro com a sua emblemática canção “Paz”.
O projeto Observatório da Paz – Nô Cudji Paz é financiado pela União Europeia e cofinanciado pelo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, I.P., sendo implementado pelo IMVF e pela LGDH. A iniciativa pretende fortalecer o diálogo e a participação da sociedade civil, com especial enfoque nas mulheres, para prevenir a radicalização e o extremismo violento na Guiné-Bissau.
A ação contribui diretamente para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS):
- ODS 16 – Paz, justiça e Instituições Eficazes – Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas a todos os níveis.