No dia 13 de fevereiro assinala-se o Dia Mundial da Rádio, uma efeméride proclamada pela UNESCO em 2011 e adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2012. A data marca a criação da Rádio das Nações Unidas em 1946 e sublinha a importância contínua deste meio de comunicação, que permanece acessível, inclusivo e capaz de alcançar comunidades remotas, promovendo a diversidade e o discurso democrático[1].
Na Guiné-Bissau, a rádio desempenha um papel crucial na disseminação de informação e na promoção da participação cívica. No âmbito dos projetos “Boa Governação” e “Observatório da Paz”, o Instituto Marquês de Valle Flôr (IMVF) e a Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) destacam a rádio como uma ferramenta essencial para a mobilização comunitária, educação cívica e promoção da paz.
Para Tudesq (2002), “a rádio em África é um meio de comunicação essencial para a democratização da sociedade e a promoção da identidade cultural”. Contudo, os investigadores Miguel de Barros e Fátima Tchumá Camará aprofundam esta perspetiva, sublinhando que a rádio não só envolve as comunidades como promotoras do conteúdo, mas também como beneficiárias diretas. “Se, por um lado, o recurso ao crioulo e às línguas locais como instrumento de comunicação permite maior alcance dos conteúdos produzidos junto dos ouvintes, por outro, o facto de os locutores comunicarem em línguas que dominam reforça o aspeto identitário e consegue penetrar nos territórios emocionais e afetivos, potenciando a interatividade entre os locutores e ouvintes”, referem os investigadores[2].
Moreira (2006) defende que a comunicação comunitária, sobretudo no contexto africano, desempenha um papel crucial, pois permite que as pessoas participem ativamente na vida das suas comunidades, promovendo o debate e a discussão de temas relevantes para o desenvolvimento local.

Rádio Uler a Baand, Canchungo. Sede da cooperativa COAJOQ
O papel das rádios comunitárias na implementação de projetos de desenvolvimento local
Ao longo dos anos, o IMVF tem sido um parceiro estratégico no desenvolvimento das rádios comunitárias na Guiné-Bissau, apoiando estações como a “Voz de Quelelé” (Bissau), “Fala di Urok” (Formosa/Urok) e “Uleer a Band” (Canchungo). Além disso, tem colaborado ativamente com a RENARC – Rede Nacional das Rádios e Televisões Comunitárias, no quadro da Ação Ianda Guiné! Djuntu, financiado pela União Europeia. Esta parceria levou à criação da Plataforma RENARC, que possibilita a contratualização de serviços com 40 rádios comunitárias em todo o território nacional. No âmbito do Djuntu, o IMVF emitiu 1.570 comunicados, produziu 687 produtos radiofónicos, incluindo boletins, debates e reportagens, e realizou 54 produções próprias, como o boletim “Novas di GAP”, transmitidas por 12 rádios comunitárias.
Através do programa “Boa Governação”, que atua em áreas como desenvolvimento humano, economia verde e inclusiva, e boa governação e estabilidade, promovemos seis programas de rádio em cinco cidades guineenses (Bafatá, Gabú, Buba, Canchungo e Bolama), fomentando o debate sobre o desenvolvimento local e o acesso a fundos de apoio.
A rádio na prevenção do radicalismo e extremismo violento
O Observatório da Paz – Nô Cudji Paz tem utilizado a rádio como uma plataforma de sensibilização e prevenção do radicalismo e extremismo violento na Guiné-Bissau. Através de quatro rádios – uma de espectro nacional, a partir de Bissau, e três comunitárias, localizadas no sul, leste e norte do país – foram produzidas 92 edições e 368 emissões, promovendo o diálogo e a coesão social.
Na Guiné-Bissau, um país onde as rádios comunitárias desempenham um papel vital, este meio continua a ser um instrumento essencial para a inclusão social e o fortalecimento da democracia. Neste Dia Mundial da Rádio, mais do que celebrar a história deste meio, reconhecemos o seu impacto contínuo na boa governação e na promoção da paz, através do trabalho incansável de organizações que utilizam a rádio para dar voz às comunidades e fomentar o desenvolvimento sustentável.
[1] https://www.un.org/en/observances/radio-day
[2] Barros, M., & Camará, F. T. (2015). Rádios comunitárias e processos de recriação da cidadania ativa na Guiné-Bissau: sentidos de pertença, direito à voz e apropriação do espaço. In Media Freedom and Right to Information in Africa (pp. 31-37). Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL). https://repositorio.iscte-iul.pt/bitstream/10071/9403/1/n1a03.pdf