Em 2014, com 10 anos, Sílvio Félix foi operado pela primeira vez a um dos ouvidos pelos médicos da Missão de Otorrinolaringologia a São Tomé e Príncipe no âmbito do Projeto Saúde para Todos. O diagnóstico: uma otite média crónica, com infeção e perda auditiva.
Agora, com 21 anos, Sílvio, natural de Pantufo, São Tomé, tem uma boa audição e tem como hobby a dança. “Graças à operação que fiz, passei a ouvir muito bem e hoje sou conhecido nacionalmente em termos de dança.”
“Estava muito mal, tinha um problema no tímpano, não ouvia bem, deitava pus e tinha mau cheiro, e quase que não assistia às aulas, porque devido ao cheiro os meus colegas provocavam-me. Ia para casa todos os dias a chorar.”, conta Sílvio. E acrescenta: “Fizemos remédios tradicionais com folhas e nada, era sempre necessário mais e não ouvia nada, se alguém estivesse aqui ao meu lado a falar não ouvia nada.”
“A minha mãe trouxe-me à consulta, e disseram-nos que não podia fazer o tratamento cá em São Tomé, tinha de ser feito lá fora, mas tomamos conhecimento das missões portuguesas e inscrevemo-nos”.

Com o Dr. João Vieira de Almeida, médico especialista da CUF que operou Sílvio ao ouvido direito em fevereiro de 2014 e ao ouvido esquerdo em fevereiro de 2017.
Em São Tomé e Príncipe não existe ainda nenhum especialista em Otorrinolaringologia.
“Na escola, os colegas provocavam-me e ia para casa sempre a chorar. Até que não queria estudar mais. Disse à mãe que não queria ir mais para a escola, a minha mãe teve uma reunião com a diretora e a diretora falou com os meus colegas e mesmo assim eles não paravam. A minha infância foi… até agora, por vezes, ainda me sinto excluído e fico só no meu canto. Mas ganhei liberdade através da dança, sinto-me muito bem, muito à vontade”.
Multidisciplinaridade e Formação continuam a ser aposta chave das missões de Otorrinolaringologia a São Tomé e Príncipe
A 43.ª Missão de Otorrinolaringologia a São Tomé e Príncipe no âmbito do Projeto Saúde para Todos – Consolidação do Sistema Nacional de Saúde de São Tomé e Príncipe contou, mais uma vez, com uma equipa multidisciplinar de profissionais de saúde, liderada pela Prof.ª Dra. Cristina Caroça, do Hospital CUF Tejo, em Lisboa, que exerceu atividade clínica e formativa no Hospital Dr. Ayres de Menezes (HAM), entre 7 e 14 de fevereiro.
Em Números:
- 1 semana de missão
- 10 profissionais de saúde especializados
- 60 consultas de Otorrinolaringologia
- 27 consultas de Audiologia
- 37 consultas de Terapia de Fala
- 42 consultas de Reabilitação Auditiva/Próteses e adaptação de 3 novas próteses auditivas
- 96 ouvidos avaliados através de exames audiométricos (timpanogramas, audiogramas tonais e potenciais evocados auditivos)
- 18 consultas de Anestesia
- 15 doentes operados, correspondendo a 21 procedimentos cirúrgicos, desde patologias como otites de repetição, amigdalites, rinites, patologias do tecido linfoide, disfonias, quistos branquiais e apneias do sono
- Sessão Clínica sobre Telemedicina, dirigida aos profissionais de saúde do HAM
Desde fevereiro de 2011 que a missão de Otorrinolaringologia se desloca regulamente a São Tomé e Príncipe (entre 3 a 4 vezes por ano durante 1 a 2 semanas), com o objetivo de prestar cuidados de saúde especializados à população são-tomense. No país não existe ainda nenhum médico especialista em Otorrinolaringologia. À distância, mantém-se as sessões semanais de telemedicina, para seguimento e orientação de casos clínicos mais complexos e formação e aconselhamento dos profissionais de saúde locais. A componente formativa continua a ser uma aposta chave, com formações on the job, tanto no contexto de bloco operatório, como das consultas.
Desta vez, a missão não abrangeu a ilha do Príncipe, mas a Dra. Cristina Caroça afirmou que “o Príncipe não está esquecido. O Príncipe também tem o apoio de telemedicina, ainda rudimentar, mas tem sido um grande intercâmbio entre os profissionais do Príncipe num grupo de WhatsApp, onde discutimos casos clínicos.”
O Projeto Saúde para Todos – Consolidação do Sistema Nacional de Saúde de São Tomé e Príncipe é implementado pela AMVF – Associação Marquês de Valle Flôr, com o apoio do IMVF em estreita parceria com o Ministério da Saúde e dos Direitos da Mulher de São Tomé e Príncipe e financiado pelo Camões, I.P. e pela Secretaria-Geral do Ministério da Saúde de Portugal.