Um computador portátil com ligação à internet e uma webcam. A partir de agora, é quanto basta para que um médico em Portugal possa avaliar e diagnosticar um doente em São Tomé e Príncipe, a cerca de cinco mil quilómetros de distância. O objetivo é estender esta plataforma a todos os PALOP.

A nova versão da plataforma Medigraf, inaugurada na passada sexta-feira, dia 7 de junho 2013, pelo IMVF em parceria com a PT, facilita as consultas de telemedicina dadas por médicos dos hospitais do serviço nacional de saúde português a doentes são-tomenses permitindo poupar milhares de euros em deslocações ao Estado português.

Esta tecnologia é portátil, mais rápida e barata, funciona em português e é compatível com qualquer equipamento ou meio de diagnóstico, como ecografias, raios-x ou mamografias. Além de permitir a transmissão de imagem em alta qualidade, guarda o registo das informações e do ficheiro clínico dos doentes.

Rede de telemedicina PALOP-Portugal

“É o primeiro passo de uma rede de telemedicina ligando os países lusófonos a Portugal, ligando-os no seu todo, permitindo uma multilateralidade de consultas do ponto de vista técnico e da planificação de política de saúde que de outra forma não seria possível”, disse Fernando Leal da Costa, Secretário Adjunto do Ministro da Saúde após assistir às consultas.

Para já, o Secretário de Estado recordou que o IMVF, que “tem sido verdadeiramente a grande alma deste processo”, submeteu o projeto a uma linha de financiamento da União Europeia para um cofinanciamento de 85%, esperando-se uma resposta até setembro.

O presidente do IMVF, Paulo Telles de Freitas, adiantou que o Hospital da Cidade da Praia, em Cabo Verde, e o Hospital de Luanda, em Angola, já manifestaram interesse em iniciar um programa de telemedicina como o que o instituto já mantém com São Tomé e Príncipe. “Estamos a iniciar a criação de uma rede de telemedicina dos PALOP com muitos hospitais do país”, acrescentou ainda, referindo-se concretamente ao Hospital D. Estefânia, em Lisboa, o Fernando da Fonseca, na Amadora, o Santo António, no Porto, ou os hospitais da Universidade de Coimbra.

“É uma rede que se vai construindo porque as pessoas vão vendo o potencial que essa rede tem”, sublinhou o presidente do IMVF. Estimando em 100 mil euros o custo anual do programa, Telles de Freitas disse que o investimento é compensado pela poupança em transferências de doentes para Portugal. O responsável recordou que só em 2012 o programa já existente com São Tomé e Príncipe permitiu poupar 180 mil euros nas transferências de doentes.

Poupança de 80% nas deslocações sanitárias para Portugal

O Ministro da Saúde de São Tomé e Príncipe, que falou na cerimónia de inauguração desde o Hospital Central Ayres de Menezes, em São Tomé, através da plataforma de telemedicina, estimou que este programa permita reduzir em 80% as despesas do Estado são-tomense com a transferência de doentes para Portugal.

A redução do número de doentes transferidos para tratamentos em Portugal permitiu uma poupança de 20% no orçamento da saúde de São Tomé e Príncipe e de cerca de um milhão de euros ao Ministério da Saúde português.

Também durante a inauguração, o embaixador de São Tomé e Príncipe em Lisboa sublinhou ainda a poupança que a telemedicina representa no “custo social das evacuações” de doentes para Portugal, nomeadamente quando a pessoa transferida é a única a sustentar a família.

A mesma ideia foi reiterada por Telles de Freitas, que disse não ser possível “atribuir um valor a esse benefício”.

“Um dia histórico para a cooperação portuguesa”

O IMVF promove há 25 anos o programa Saúde Para Todos em São Tomé e Príncipe, tendo iniciado um programa de telemedicina em março de 2011, por perceber que “os custos da cooperação eram insustentáveis”, disse Telles de Freitas.

O Secretário de Estado da Cooperação, Francisco Almeida Leite, que considerou a inauguração de hoje “um dia histórico para a cooperação portuguesa”, disse que o Ministério dos Negócios Estrangeiros contribuiu com 660 mil euros para este projeto, que é cofinanciado por instituições como o IMVF, a Fundação Calouste Gulbenkian, entre outros.

LUSA//IMVF

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