A 5.ª Escola de Campo Agrícola (ECA) promovida pelo projeto Territórios Sustentáveis para a Paz em Caquetá, na Colômbia decorreu em agosto e consistiu num atelier teórico-prático em sistemas agroflorestais regenerativos com foco no Cacau, adaptados à paisagem da cordilheira oriental da zona de transição entre a Amazónia e os andes colombianos.
As ECA são uma metodologia de trabalho participativo desenvolvida pelo projeto com o objetivo de promover a capacitação e sensibilização dos produtores e instituições locais para práticas agrícolas ambientalmente sustentáveis e inovadoras, com foco numa elevada qualidade dos produtos.
Esta ECA, que decorreu na aldeia de La Cristalina, no município de El Paujil, contou com cerca de 30 participantes, entre agricultores de comunidades vizinhas e entidades e organizações locais que têm vindo a colaborar com o projeto.
O destaque desta iniciativa de capacitação foram os princípios dos sistemas agroflorestais sucessionais, através dos quais se procura conciliar produção agrícola e regeneração dos ecossistemas florestais através de técnicas especializadas. Entre estas técnicas realça-se a sucessão ecológica, com um foco nas mudanças, ritmos e processos evolutivos do ecossistema ao longo do tempo; a estratificação, através da qual se valoriza o espaço de distribuição vertical das várias espécies presentes; e o fomento da biodiversidade. Como resultado, obtêm-se sistemas altamente diversificados nos quais diferentes espécies coabitam no mesmo espaço de forma integrada e sinergética.
Nesta ECA trabalharam-se cerca de 30 espécies de plantas (frutíferas, madeireiras, forrageiras e leguminosas com diferentes ciclos de crescimento), procurando explorar a sua integração no terreno, consoante as necessidades de luz e espaço de cada uma e as interações estabelecidas.
Dentro destes sistemas biodiversos o cacau assume-se primordial, pelo importante papel que detém na região e pelo seu valor socioeconómico, representando uma fonte de rendimento muito importante para estes produtores. Assim, formadores e produtores focaram-se também na produção de cacau, abordando a sua integração no sistema agroflorestal, beneficiando de forma harmoniosa e sinergética das interações com as outras espécies, criando as condições para o aumento da produtividade e a obtenção de um produto final sustentável e de qualidade.
Ao nível ambiental, estes sistemas regenerativos contribuem diretamente para a preservação e restauração dos ecossistemas florestais, através da promoção da biodiversidade, regeneração dos solos, regulação do clima e do ciclo da água. Para mais, fazem-no sem recorrer a insumos externos, criando mecanismos de autogeração dos microrganismos necessários a estes processos, promovendo a fertilidade dos solos e a resiliência do ecossistema agroflorestal a pragas e doenças.
Importa ainda referir a importância socioeconómica destes sistemas, que, a par do seu papel essencial na preservação da floresta, permite compreender a importância dada à sua promoção no contexto do projeto Territórios Sustentáveis para a Paz em Caquetá. Para além dos rendimentos obtidos pelos produtores através da comercialização do cacau enquanto produção primordial, a riqueza e diversidade destas agroflorestas permite a obtenção de muitos outros produtos que podem ser comercializados localmente ou consumidos pelos produtores e pelas suas famílias. Assim, trabalha-se diretamente a melhoria da segurança alimentar das comunidades beneficiárias e reforça-se a resiliência socioeconómica dos produtores e das suas famílias, ao diversificar as culturas fonte de rendimento e alimento.
Este papel é identificado e reconhecido pelos produtores envolvidos no projeto, que, ao longo de várias ações de divulgação e capacitação, têm vindo a apropriar-se dos benefícios deste tipo de sistemas, preparando-se para os implementar nas suas fincas e divulgar aprendizagens junto das suas comunidades.
Este projeto é implementado pelo IMVF e pela Red Adelco e financiado pelo Fundo Fiduciário da União Europeia para a Paz na Colômbia, cofinanciado pelo Camões, I.P., e conta com contribuições da governação local do Departamento de Caquetá e dos municípios de La Montañita e El Paujil, bem como de empresas privadas portuguesas presentes na Colômbia.