
O nosso sistema alimentar tem uma enorme influência e impacto nas alterações climáticas e nas migrações (por pobreza, por fome, etc.). Para garantir uma mudança sustentável de atitudes e comportamentos é preciso analisar e entender os padrões de consumo, que nos permitem orientar a nossa ação para a promoção de um mundo mais justo, digno e inclusivo.
Entre os dias 13 e 21 de agosto de 2020, no âmbito da campanha #GoEAThical – Our food. Our Future, perguntámos a 8.850 consumidores, em 17 países europeus, sobre os seus hábitos de consumo e atitudes em relação a uma alimentação ética. O inquérito foi conduzido em painéis nacionais online, nos quais pessoas envolvidas nas compras de alimentos do agregado familiar foram selecionadas a partir de uma amostra representativa de pessoas com idades compreendidas entre os 20 e 35 anos (adicionalmente diferenciadas por género e região).

Do ponto de vista do processo de tomada de decisão, Portugal segue a tendência europeia, valorizando o preço (82%), a qualidade e frescura (81%) como os fatores mais importantes. 46% dos inquiridos dizem preferir produtos de origem local ou regional.
A dimensão ética também é importante. Pelo menos 29% dos inquiridos preferem opções com menos plástico/ embalagem e, tal como é o caso de 25% dos inquiridos, produtos de comércio justo. Os Direitos Humanos e dos Animais também são alvo de preocupação de 23-24% dos inquiridos.
Não consumir ingredientes como açúcar, gordura e alergénios, assim como produtos orgânicos, também são vetores de decisão representativos para 23% e 21%, respetivamente, dos consumidores. 10% dos inquiridos optam por produtos vegetarianos ou veganos, estando ligeiramente abaixo da média de 13% dos dezassete países do estudo.
Atitudes perante alimentação ética
65% dos inquiridos portugueses diz identificar-se completamente ou fortemente com uma reivindicação ética na alimentação, encontrando-se muito acima da média europeia – 52%.
Neste sentido, 53% dos inquiridos diz concordar muito ou completamente que a alimentação ética contribui para criar condições mais justas nas cadeias de fornecimento de alimentos. Assim, a esmagadora maioria (81%) acredita que é importante abordar especificamente os direitos das mulheres neste âmbito.
Na relação com hábitos de consumo, entre os inquiridos que fazem compras de supermercado, pode-se determinar que concordam, muito ou completamente, com as seguintes afirmações:
- 39% – a alimentação ética é muito cara para si e necessita de muito tempo.
- 31% – preocupa-se com os critérios da alimentação ética quando estou a escolher um local para comer fora ou um serviço de entrega de comida.
- 28% – a alimentação ética é acessível.
Uma parte da amostra não confia nas informações dos produtos, nem nos rótulos (20%) e 18% acredita que a alimentação ética é apenas mais uma forma das empresas ganharem dinheiro.

Responsabilidades e legislação
Mais de metade dos inquiridos portugueses (53%) afirma que a legislação da União Europeia e os consumidores (49%) são os principais agentes para mudar as respetivas políticas ou comportamentos para promover sistemas alimentares mais equitativos.
43% dos inquiridos também defendem o papel dos próprios retalhistas alimentares neste processo.
No mesmo sentido, 56% dos inquiridos acredita que é mais fácil uma mudança quando esta é despoletada por uma lei que exija que os principais agentes melhorem as condições ao longo das respetivas cadeias de fornecimento.
Incidindo o olhar sobre os trabalhadores migrantes da apanha de fruta e vegetais, 68% da amostra afirma que estes devem ter os mesmos direitos laborais que os trabalhadores nacionais, relativamente a salários e benefícios.

Atividades
As fontes de informação são vetores importantes do processo de tomada de decisão no consumo. Perante a média europeia, os portugueses são os mais ativos, sendo que 15% dos inquiridos afirma procurar informação.
No que diz respeito à influência do indivíduo sobre o processo de mudança para conseguir sistemas de alimentação mais justos, 45% dos inquiridos diz acreditar que as atividades sobre justiça alimentar podem promover a sensibilização.
Quando inquiridos sobre em que tipo de atividade gostariam de se envolver, 58% afirma preferir ações online, como petições ou hashtags. No mesmo sentido, 21% seleciona campanhas de boicote (online e offline). Note-se que 18% afirma não querer participar em nenhuma das atividades enumeradas no questionário – ações online, campanhas de boicote, protestos gerais de rua, atividade de protesto à frente do supermercado.

Comportamentos
À semelhança dos outros países Europeus, 92% dos inquiridos portugueses fazem compras em supermercados e hipermercados. Esta prática faz parte de hábitos de consumo que também privilegiam os mercados de produtos alimentares e as lojas artesanais (como padarias e talhos independentes), representando 34% e 27% do total das escolhas, respetivamente.
Opções com um posicionamento ético específico, como lojas orgânicas, de desperdício zero/ sem plástico, cooperativas alimentares e entrega de caixa do produtor têm pouca representatividade na amostra do inquérito, colhendo entre 5% e 9% das escolhas.
Claro que estes resultados podem não refletir apenas um reflexo da procura, mas também da pouca oferta no mercado nacional, num segmento que se encontra em fraco crescimento.
Portugal segue a tendência europeia, valorizando o preço (82%) como um dos fatores mais importantes, na hora de optar por um produto, sendo que 81% privilegia a qualidade e a frescura dos alimentos.

Um dos grandes objetivos da campanha #GoEAThical – Our food. Our Future é a sensibilizar e mobilizar os jovens europeus para a adoção de padrões de consumo sustentáveis e, assim, contribuir para promoção do desenvolvimento mais justo, digno e sustentável.