No dia do lançamento oficial da campanha pan-europeia #ClimateOfChangeEnd Climate Change, Start Climate of Change, 22 de abril de 2021, Dia da Terra, o IMVF organizou o webinar a (re)descoberta de novos modelos económicos, no qual foi exibido o documentário “A Revolução dos 25%”, seguindo-se uma conversa com Fernando Jorge Cardoso, coordenador da área de Estudos Estratégicos e do Desenvolvimento do IMVF e Ricardo Zózimo, professor de impacto e empreendedorismo, Leadership for Impact, na Nova School of Business and Economics (Nova SBE).

O documentário “A Revolução dos 25%”, realizado por Broederlijk Delen em parceria com o EEB, apresenta alternativas à economia ‘take-make-use-lose’, tanto em teoria como na prática. Foi produzido em colaboração com a ONG belga Broederlijk Delen, é narrado por conhecidos defensores da mudança de sistema, tais como Kate Raworth, e apresenta exemplos inspiradores do que é possível fazer aqui e agora.

Fernando Jorge Cardoso reconheceu que, atualmente, está vigente um sistema capitalista que tem como princípio base a produção em massa para o consumo de massas. Neste sentido, alertou que a mudança deste paradigma económico implica necessariamente uma mudança de modelo económico, destacando o importante papel da política e da atividade dos grupos organizados na mudança de políticas económicas, políticas ambientais – políticas no geral. O orador referiu ainda que é o papel ativo das pessoas e da política que pode trazer a mudança, pois apesar dos grandes avanços tecnológicos e das diversas inovações que a tecnologia trouxe existe muita coisa que ainda está por fazer para podermos solucionar os problemas do planeta. Neste contexto, preveniu para a importância de encontrar um equilíbrio entre as ações individuais e a mudança de modelo económico.

Cardoso introduziu o tema deste webinar fazendo referência a 3 modelos de atuação:

  • A Revolução dos 25%: baseia-se num estudo de 2018, do Professor Damon Centola, que defende que se a minoria ativista chegar aos 25% consegue transformar a opinião entre 72% a 100% das pessoas;
  • Economia do Donut: abordada num livro publicado por Kate Raworth em 2018, no qual estão expostas um conjunto de atividades de natureza política que podem ser feitas, começando pelas ações de minorias e chegando aos centros de decisão empresariais e governamentais;
  • Economia de Francisco: conjunto de preceitos comportamentais e de natureza étnica.

Defendeu ainda, que a informação é muitas vezes moldada aos interesses políticos dos decisores, salientando aquela que para si é uma das questões principais: a opacidade e a verdade. O orador referiu também que a Economia Circular poderia poupar, com recurso às tecnologias já existentes, 20% do que é produzido, no entanto e visto que atualmente estamos a gastar 1,6 planetas, não é suficiente.

Por outro lado, Ricardo Zózimo alertou para a necessidade de reforçar e mesmo dinamizar iniciativas de diálogo. O orador reforçou a importância da capacidade de argumentar com pessoas que tenham opiniões contrárias, referindo que Kate Raworth, através da Economia do Donut, conseguiu captar essa necessidade.

O problema da sustentabilidade não só é grande como é urgente, segundo o orador só é possível combatê-lo com uma união de esforços, fazer a transição do eles (empresas, entidades, empresários, governo) para o nós. Salienta a importância de encontrar uma linguagem comum, recorrendo aos ODS como exemplo, uma vez que funcionam como uma linguagem comum em torno das questões da sustentabilidade e, consequentemente, das alterações climáticas.

Zózimo destacou também que é importante que os cidadãos assumam que os políticos falharam e se envolvam na política de forma a dar o seu contributo. Neste cotexto, reforçou a importância de haver uma voz coletiva, destacando que enquanto sociedade temos a capacidade de fazer novos modelos económicos assentes no capitalismo consciente, através de pequenas alterações podemos evoluir para uma versão de capitalismo coletivo. Neste sentido, encorajou todos os participantes deste webinar a falar com pessoas que têm opiniões diferentes das suas e a falar com vizinhos, conhecer as realidades que os rodeiam e tomar consciência do coletivo, de forma a passar de uma perspetiva individualista para uma perspetiva coletiva.

Passando para o contexto de pandemia que vivemos a nível mundial, Fernando Jorge Cardoso alertou para o nacionalismo e individualismo que foi percetível na gestão da pandemia, que levou a priorizar a vacinação de cada país pelo seu respetivo governo, e que impediu que países que não têm acesso à tecnologia de produção de vacinas, mas que têm a capacidade produtiva, pudessem produzir vacinas. Isto porque a Comissão Europeia e alguns países, incluindo Portugal, votaram contra a suspensão dos direitos de propriedade intelectual, impedindo que a produção de vacinas seja feita por quem tem capacidade para a produzir.

Complementando a intervenção de Fernando Jorge Cardoso, Ricardo Zózimo reforçou a necessidade de elevar a qualidade da política e das pessoas que estão na política, alertando que a politica não pode ser pouco técnica e que os técnicos não podem ser pouco políticos e dando um exemplo relacionado com a pandemia que atualmente enfrentamos: se os políticos não impuserem aos fabricantes, no caso das vacinas, outro tipo de comportamento que não privilegiar a produção de vacinas para os países que pagaram mais, os fabricantes agem a favor dos seus clientes.

Em tom de conclusão os oradores concordaram que a política deve ser assumida por todos, que sem um movimento e esforço coletivo não é possível alterar o contexto em que nos encontramos hoje e que é importante trabalhar o diálogo para que seja possível construir uma voz coletiva. Veja a gravação completa do webinar disponível aqui.

O cenário de crise financeira permanente, desigualdade extrema e crescente, pressão e destruição do ambiente são fenómenos que revelam que o sistema económico vigente está ultrapassado e não responde aos desafios que enfrentamos, nem às metas de justiça social e económica que ambicionamos. O projeto #ClimateOfChange procura informar os jovens sobre as consequências do aquecimento global, incluindo sobre a migração, e dar-lhes poder para fazerem campanha e defenderem a mudança.

Este webinar foi organizado no âmbito da campanha pan-europeia #ClimateOfChange, promovida em Portugal pelo IMVF e cofinanciada pela União Europeia e pelo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, I.P.

Sabe mais sobre a campanha pan-europeia #ClimateOfChange  End Climate Change, Start Climate of Change em climateofchange.info/portugal.

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