Entre os dias 21 e 25 de novembro, uma equipa médica constituída por três neuropediatras do Hospital D. Estefânia (Lisboa) esteve em Cabo Verde para ministrar um conjunto de sessões de formação em Rastreio das Alterações do Neurodesenvolvimento da Criança dos 0 aos 5 anos.

A formação, promovida no quadro do Projeto de Promoção da Inclusão de Crianças e Jovens com Deficiências Neurológicas em Cabo Verde, foi dirigida a mais de 150 médicos de clínica geral, medicina familiar e pediatria e teve lugar na ilha de São Vicente, nos dias 21 e 22 de novembro, e na ilha de Santiago, nos dias 23, 24 e 25 de novembro.

A primeira ação de formação aconteceu no Hospital Batista de Sousa, na ilha de São Vicente, no dia 21 de novembro, seguindo-se a Delegacia de São Vicente, no dia 22, o Hospital Universitário Agostinho Neto, no dia 23, o Hospital Regional Santa Rita Vieira, no dia 24 e, por fim, a Delegacia de Saúde da Praia, no dia 25. De salientar que a organização das formações ficou a cargo da Equipa de Cooperação em Neuropediatria Portugal-Cabo Verde, cujo ponto focal é a Dra. Antónia Fortes do Ministério da Saúde de Cabo Verde.

Para além das sessões de formação, as neuropediatras portuguesas Dra. Ana Isabel Dias, Dra. Cristina Halpern e Dra. Teresa Painho avaliaram 4 crianças com problemas neurológicos nas consultas demonstrativas de neurodesenvolvimento e visitaram, no dia 23 de novembro, o Centro de Reabilitação da Federação das Associações de Pessoas com Deficiência (FECAD) e a Casa Primavera, em Cidadela, na Cidade da Praia, onde testemunharam o trabalho realizado neste Centro e entraram em contacto com as crianças presentes. Após a visita, a equipa realizou uma sessão de esclarecimento dirigida aos pais e encarregados de educação das crianças que frequentam o Centro.

O Dr. Darius Lima, médico neurologista, que esteve presente nos encontros realizados com os pais e professores, deixou o seu testemunho:

“As atividades da missão das neuropediatras em Cabo Verde tiveram um impacto positivo muito importante nos participantes que aprenderam observando as consultas direcionadas ao objetivo de se ter em mente “o que as crianças estão a pensar?”. Foram consultas em que pudemos avaliar a criança a brincar, as respostas que dá ao receber um comando simples e como age ao ser confrontada em certos aspetos. Certamente ajudará os profissionais de saúde na investigação do diagnóstico e também no que diz respeito a como levar aos pais as informações do quadro atual da criança e também como ajudar no tratamento, sendo ele medicamentoso ou não farmacológico. Durante a formação ministrada pelas neuropediatras conseguimos ver marcos importantes etários da criança em escalas que temos em mãos e que não usamos na nossa rotina profissional. Escalas essas que nos ajudam a seguir de perto o desenvolvimento neurológico de uma criança e o que podemos esperar nos próximos meses, ao prestar atenção em “red flags” que muitas vezes passam despercebidas. Em forma de resumo, foram dias muito interessantes, de atividades formativas importantes com conteúdo de abordagem essencial ao profissional de saúde que muitas vezes se depara com dificuldades nas crianças que carecem de ajuda no tratamento e na clarificação do diagnóstico.”

Na tarde do dia 25, a equipa esteve na Escola Eugénio Tavares, em Achada Santo António, na Cidade da Praia, onde teve oportunidade de dinamizar encontros/conversas abertas com pais, encarregados de educação e professores de crianças com Necessidades Educativas Especiais (NEE), bem como com psicólogos da Equipa Multidisciplinar da Apoio à Educação Inclusiva (EMAEI).

A Dra. Denise Afonso, psicóloga da EMAEI, que esteve presente no encontro, deixou o seu testemunho:

“A Equipa Multidisciplinar de Apoio à Educação Inclusiva de Achada Santo António, da Delegação do Ministério da Educação da Praia participou no dia 25/11, num encontro com pais/encarregados de educação e professores de crianças com Necessidades Educativas Especiais (NEE), no quadro da implementação do Projeto de Promoção da Inclusão de Crianças e Jovens com Deficiência Neurológica. Enquanto equipa de apoio às questões ligadas à Educação Inclusiva (EI), podemos sublinhar a importância do encontro promovido, pois permitiu aos pais/encarregados de educação dos alunos com NEE da Escola Eugénio Tavares, conversarem diretamente com uma equipa de médicas neurologistas sobre as suas dúvidas, os seus anseios e perspetivas em relação aos filhos/educandos, nos diferentes campos da vida e principalmente em relação ao processo ensino-aprendizagem. O diálogo EMAEI-ASA/médicas neurologistas foi, na mesma medida, rico, pois possibilitou uma troca de experiências de trabalho de duas realidades (Cabo Verde e Portugal) no que diz respeito, principalmente, à questão da implementação de Currículos Específicos Individuais, uma medida educativa da educação especial que prevê alterações significativas no currículo comum. Um outro ponto discutido foi a importância da existência de profissionais de diferentes áreas (fonoaudiólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, etc.), nas equipas do Ministério da Educação, pois as sessões com esses profissionais nas escolas, de entre outros benefícios, facilitaria a frequência, a assiduidade das sessões e colmataria a demora dos atendimentos nos hospitais. Um bem-haja a todos os envolvidos e que as contribuições deixadas pela equipa de especialistas sejam viabilizadas, em prol de um Cabo Verde efetivamente inclusivo”.

O Professor Jorge Rodrigues, Diretor da Escola Eugénio Tavares, partilhou da mesma opinião, realçando que o encontro foi bastante enriquecedor e participativo, pois os presentes viram muitas das suas dúvidas esclarecidas e ainda receberam algumas orientações de como reforçar o trabalho já iniciado. O Prof. Jorge Rodrigues diz ser necessário mais encontros desta natureza, para que pais e professores se sintam amparados.

Perante as preocupações colocadas por um elemento da EMAEI, que também esteve presente no encontro, a Dra. Ana Isabel Dias falou da necessidade da formação de uma equipa verdadeiramente multidisciplinar, incluindo fisioterapeutas, terapeutas de fala e ocupacionais, fonoaudiólogos e psicomotricistas, para dar resposta às crianças com NEE.

O Projeto de Promoção da Inclusão de Crianças e Jovens com Deficiências Neurológicas em Cabo Verde tem como principal objetivo melhorar a qualidade de vida das pessoas com deficiências neurológicas, especificamente promovendo a integração e inclusão de crianças e jovens com deficiências neurológicas.

O projeto, que decorre até agosto de 2023, é financiado pela União Europeia, cofinanciado pelo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, I.P. e é implementado pelo IMVF, pela Associação de Apoio a Iniciativas de Auto-promoção (SOLMI) e pela Federação das Associações de Pessoas com Deficiência (FECAD), em estreita articulação com o Ministério da Família e Inclusão Social de Cabo Verde e o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social de Portugal.

Mais informações na página de Facebook da campanha Tudu Fidju Di Cabo Verdehttps://www.facebook.com/tudufidjudicaboverde

 

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