Em Bissau, nos dias 10 e 11 de outubro, o Observatório da Paz – Nô Cudji Paz, em colaboração com o Ministério da Ação Social, Família e Promoção da Mulher, realizou uma ação de formação para a Prevenção do Radicalismo e Extremismo Violento (PREV) voltado para as mulheres jovens e adultas.

Essa ação foi programada para coincidir com o Dia Internacional da Menina, celebrado anualmente a 11 de outubro, com o objetivo principal de fornecer às mulheres conhecimentos e técnicas para a identificação precoce de sinais de radicalismo e extremismo violento.

A cerimónia solene da ação de formação foi presidida pela Ministra da Ação Social, Família e Promoção da Mulher, a Dra. Cadi Seidi, na presença dos embaixadores da União Europeia e de Portugal, respetivamente.

Na sua alocução, a Dra. Cadi Seidi, alertou que a mulher e a rapariga, à semelhança das crianças e idosos, assim como as pessoas com necessidades especiais, são as maiores vítimas de instabilidade e da violência nas suas diversas formas. Seidi disse, ainda, que nenhum país ou região do mundo está imune aos impactos devastadores do radicalismo e extremismo violento, por isso, a prevenção constitui-se como uma estratégia fundamental a adoptar por todos os atores nacionais. Por fim, a Senhora Ministra, salientou que a educação é a ferramenta mais poderosa para criar resiliência nos estudantes e combater o radicalismo e extremismo violento.

Para o Embaixador da União Europeia na Guiné-Bissau – Dr. Artis Bertulis, “não é possível alcançar objetivos básicos de desenvolvimento, enquanto um país sofre as ameaças de extremistas violentos”. O Embaixador mencionou que “a União Europeia promove, tanto dentro das suas fronteiras, quanto nos países parceiros, abordagens de desenvolvimento que reforçam a resiliência das comunidades face ao extremismo”. Bertulis considerou, igualmente, que a educação e a justiça são instrumentos relevantes para combater o extremismo e a radicalização; e alertou para a necessidade de promover o diálogo construtivo como estratégia para a resolução de conflitos, sendo uma ferramenta poderosa para a consolidação da paz.

Por seu lado, o Embaixador de Portugal, Dr. José Rui Velez Caroço, afirmou que “não há causa mais nobre e objetivo mais louvável do que dar atenção e lutar contra o radicalismo e extremismo violento”, tendo assegurado que Portugal continuará a apoiar ações similares.

Por fim, o Presidente Interino da Liga Guineense dos Direitos Humanos e igualmente coordenador do projeto “Observatório da Paz”, Dr. Bubacar Turé, na sua alocução referiu que “não obstante o desprezo, a normalização da violência, a discriminação e a exclusão injustificada de que são vítimas as mulheres da Guiné-Bissau, continuam a ser um dos pilares essenciais da economia, da democracia e do processo de consolidação da paz no país”.  Para Turé, “a paz no mundo está a passar por reveses significativos, na medida em que os conflitos, o extremismo violento e o crime organizado, estão a expandir-se de forma significativa pelos vários cantos do planeta.”

A exclusão das minorias étnicas, religiosas, políticas e fatores associados à corrupção, desigualdades crescentes, má distribuição dos recursos públicos, são as principais razões que alimentam os discursos radicais e extremistas” – alertou o ativista de direitos humanos.

Por fim, Turé enfatizou que “perante essa realidade indesmentível o Observatório da pazNô Cudji Paz, surge como uma ponte que une diferentes atores nacionais, desde políticos, sociais e económicos em torno de um ideal comum, que é promover a coesão social e consolidar a paz justa na Guiné-Bissau”.

Após a sessão solene da ação de formação, deu-se início às apresentações dos painéis temáticos, com destaque para a breve apresentação do projeto Observatório da Paz – Nô Cudji Paz, pelo seu coordenador local, Dr. Bubacar Turé. Durante a apresentação, foram enfatizados os objetivos do projeto, que se concentra na promoção do diálogo inclusivo entre diversos intervenientes nacionais no processo de prevenção do radicalismo e extremismo violento.

Durante os dois dias de formação foram abordados conteúdos transversais no âmbito da prevenção do radicalismo e extremismo violento, com destaque para as noções básicas do conceito de extremismo e o seu panorama a nível regional: ameaça, perceção global do fenómeno, processo de radicalização individual e enfoque na prevenção.

Seguiram-se os sinais e as manifestações de radicalismo e extremismo na Guiné-Bissau; o papel das mulheres na prevenção, identificação e desconstrução de discursos radicais e extremistas; condições conducentes à radicalização e extremismo violento e a importância da abordagem sensível ao género; o papel da impunidade, corrupção e disfuncionamento da justiça, na promoção dos discursos radicais e extremistas;  e, discurso público e linguagem adequada para a sensibilização sobre radicalismo e extremismo violento.

Esta formação destacou-se pela notável qualidade dos debates, impulsionados pelo elevado nível académico de muitas das participantes, inclusive com doutoramento. Além disso, o processo de seleção das participantes seguiu criteriosamente os critérios de inclusão, possibilitando a participação de membros da federação de associações que promovem e defendem os direitos das pessoas com deficiência.

Este processo de formação decorreu num ambiente de elevada interação entre facilitadores e participantes, numa dinâmica de exibição de filmes e outros recursos didáticos alusivos à ameaça que advém dos discursos de ódio. Foram promovidas sessões de trabalho de grupo e animações recreativas, as quais contribuíram para que as mulheres jovens e adultas assimilassem conhecimentos relevantes com vista a prevenir o radicalismo e extremismo violento na Guiné-Bissau.

O projeto Observatório da Paz – Nô Cudji Paz é financiado pela União Europeia e cofinanciado pelo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, I.P, implementado pelo Instituto Marquês de Valle Flôr (IMVF) e pela Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH). A ação pretende contribuir para o diálogo e para a promoção da paz, através do reforço da participação, do trabalho em rede e do estabelecimento de parcerias estratégicas com a sociedade civil, designadamente, abrangendo, diretamente, as mulheres jovens e adultas, com vista à prevenção da radicalização e do extremismo violento na Guiné-Bissau.

 

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