O Hospital Regional de Canchungo, na Região de Cacheu, é uma das 132 estruturas de saúde da Guiné-Bissau onde o PIMI II – Programa Integrado para a Redução da Mortalidade Materna e Infantil: Componente de Reforço da Disponibilidade e Qualidade dos Cuidados de Saúde Materno-infantis está a ser implementado desde junho de 2017. Na ala da maternidade, vemos na sala de parto a balança cedida pelo projeto – que contrasta com a antiga forma de pesar os bebés – e na sala de pós-parto encontram-se várias mães com os seus filhos recém-nascidos a aguardar por uma consulta de acompanhamento gratuita.

O PIMI beneficia diretamente cerca de 300 mil crianças menores de 5 anos, cerca de 400 mil mulheres em idade fértil e mais de 1200 profissionais de saúde afetos às 132estruturas sanitárias do país. A ação beneficia indiretamente a totalidade da população da Guiné-Bissau (1.881.005 habitantes).

Izzet Martinez, enfermeira cubana a trabalhar com o projeto desde novembro de 2017 – uma entre os 9 técnicos expatriados cubanos que integram a equipa clínica ao abrigo de um protocolo celebrado com os Serviços Médicos da República de Cuba – encaminha-nos para a sala onde estão guardados e organizados todos os medicamentos disponibilizados, gratuitamente, pelo PIMI II, a todas as mulheres grávidas, puérperas e crianças até aos 5 anos que ali se dirigem. Para além dos profissionais expatriados, a equipa clínica PIMI conta com 28 profissionais de saúde Bissau-guineenses que se encontram diariamente nas diversas áreas sanitárias do país para capacitar os seus pares em contexto de trabalho.

Para além da capacitação clínica, a distribuição gratuita de medicamentos e consumíveis médicos nos Centros de Saúde e Hospitais Regionais constitui um dos principais pilares do projeto.  O IMVF assegura a disponibilidade em permanência de 57 medicamentos e 61 consumíveis médicos essenciais nas estruturas sanitárias abrangidas.

Os medicamentos PIMI são distribuídos bimestralmente para as 132 estruturas de saúde alvo, de acordo com um instrumento de quantificação de necessidades desenvolvido pelo projeto com base em dados clínicos de cada estrutura de saúde. A operacionalização da cadeia de levantamento de necessidades, aquisição e distribuição de medicamentos e consumíveis médicos PIMI II envolve atualmente um complexo processo operacional, logístico e humano que conta com a participação de uma equipa constituída por 1 coordenador operacional, 1 responsável logístico, 7 técnicos logísticos, 2 técnicos de farmácia, 16 motoristas (de forma intercalada) e 1 técnica estatística.

A Enf.ª Izzet tem também um importante papel na formação das parteiras do Hospital. Tombom Fati é uma delas. “Aprendi muito com o PIMI II, todos os meses fui às formações (em sala/teóricas) e adquiri experiência de trabalho na maternidade”.

Assistimos à realização de uma ecografia – com o ecógrafo cedido pelo PIMI I – a uma grávida em final de gestação, pelo médico de clínica geral, Dr. Jess Rodrigues, que está desde 2011 no Hospital de Canchungo e que participou em várias formações promovidas pelo PIMI II, nomeadamente, em Cuidados Obstétricos e Neonatais de Urgência (CONU) e Ecográfica Obstétrica.

“O PIMI II tem feito muitas coisas pelo meu país, pela minha instituição e por mim enquanto profissional de saúde. Melhorei bastante com as formações e capacitações de que beneficiei no âmbito do projeto. Acredito que vamos continuar a melhorar os indicadores do país, que é a preocupação do PIMI e do Governo, sobretudo a saúde materna e a saúde infantil, para diminuir a taxa de mortalidade materna e infantil”, refere Jesse Rodrigues.

Nos dois primeiros anos do projeto, cerca de 1200 profissionais de saúde de todas as regiões sanitárias do país beneficiaram de formações PIMI, em sala ou on the job, em Intervenções de Alto Impacto (formações de base na área da saúde materno-infantil), em Cuidados Obstetrícios e Neonatais de Urgência (CONU), em Ecografia Obstétrica, Imunoterapia Transfusional (destinada aos técnicos de laboratório), em Prática de Cesariana e em Anestesia Obstétrica.

Jesse seguiu as pisadas da mãe Maria Formosa Gomes, mais conhecida por Mana Nina, parteira desde 1982 e responsável pela área da Saúde Reprodutiva da região de Cacheu desde 1996. “Com o início do projeto PIMI houve uma grande redução da mortalidade materno-infantil, com a formação, e a distribuição de medicamentos e materiais”, conta.

Vasco Na Dum, médico a trabalhar com o PIMI II no Hospital Regional de Canchungo resume os principais eixos do projeto e partilha. “Uma das mulheres que recebemos hoje, que se queixava da diminuição de movimentos fetais, um dos médicos formados nesta área pelo projeto fez a ecografia, e verificou que havia diminuição da frequência cardíaca fetal. A paciente foi encaminhada para fazer uma cirurgia. O objetivo é dar-lhe o seu filho não só vivo, mas também com saúde”.

A Guiné-Bissau apresenta indicadores particularmente alarmantes ao nível da saúde materna e infantil, registando taxas de mortalidades materna e infantil das mais elevadas do mundo. O PIMI II tem como objetivos contribuir para a redução das mortalidades materna, neonatal e infantojuvenil na Guiné-Bissau, e assegurar um melhor acesso a cuidados de saúde de qualidade a mulheres grávidas e puérperas e crianças até aos 5 anos na Guiné-Bissau.

“O PIMI II chegou no momento certo à minha terra”, afirma Mário Quadé, médico que integra a equipa clínica do PIMI II no Hospital Regional de Canchungo. E acrescenta: “Vemos as dificuldades reais que os utentes enfrentam”. Reforça a vertente de capacitação dos técnicos para prestação de serviços de qualidade, as formações em sala e em serviço (on the job), a gratuitidade das consultas e medicamentos para todas as mulheres grávidas e as crianças com menos de 5 anos, e a avaliação de resultados do trabalho através de monitorizações trimestrais. “Para dar um exemplo, durante 2018, neste hospital e noutros hospitais da região de Cacheu, temos visto uma melhoria significativa em termos dos indicadores”.

No Centro de Saúde de Cacheu, a Enf.ª Parteira Teresa Sanha, desde 2016 neste centro de saúde, observa uma grávida que acaba de chegar. Confirma: vai nascer daqui a 2 horas. Prepara a sala de partos e reúne tudo aquilo que é necessário para realizar mais um parto.

Mães e filhos voltam para a consulta pós-natal. “Para aqueles que estão longe, temos a Estratégica Avançada, e vamos consultar aqueles que não podem vir”. Reconhecendo as grandes dificuldades de acesso neste país da África Ocidental que condicionam frequentemente a procura a serviços de saúde, o projeto prevê, ainda, a saída dos profissionais clínicos dos Centros de Saúde, de acordo com eixos pré-determinados, para prestação de cuidados à população que vive a mais de 5km/1h de caminhada da estrutura sanitária em causa.

Vitório Mendes, enfermeiro de 26 anos a trabalhar no Centro de Saúde de Cacheu conta: “Antes as nossas grávidas não vinham às consultas de pré-natal, e também não tinham o hábito de vir dar à luz no centro de saúde.” E acrescenta. “O PIMI não se cinge apenas a distribuir medicamentos e a disponibilizar consultas de forma gratuita. O PIMI é um programa que vai mais além. Ajuda na reabilitação dos centros de saúde e na formação dos técnicos de saúde”, melhorando assim o desempenho clínico e a qualidade da prática clínica. Neste âmbito, foram instalados bancos de sangue, ecógrafos, painéis fotovoltaicos para iluminação dos serviços da maternidade, salas de parto, pediatria e laboratório nas várias estruturas de saúde.

O PIMI II – Programa Integrado para a Redução da Mortalidade Materna e Infantil, na Guiné-Bissau é implementado pelo IMVF, em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e a Entraide Médicale Internationale (EMI), contando com o financiamento da União Europeia e o apoio do Camões, I.P.

 

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