Foi no decorrer do último ciclo de formação avançada em Ecografia Obstétrica, promovida pelo PIMI II – Programa Integrado para a Redução da Mortalidade Materna e Infantil, na Guiné-Bissau, que Ronízio Bathy, um dos formandos, médico guineense de clínica geral, e atual diretor do Hospital Regional de Gabu, diagnosticou uma malformação cardíaca congénita (transposição de grandes vasos) num dos bebé de uma gestante, Anja, grávida de 7 meses de gémeos.
É o pai, Alfa, que conta que a mulher foi desde o início da gravidez acompanhada no Hospital Regional de Gabu, seguindo sempre as orientações médicas do Dr. Ronízio Bathy. O problema foi detetado no bebé aquando da realização de uma ecografia, e a recomendação médica foi para que Anja desse à luz em Portugal, onde tem familiares a residir. Contudo, a família não tinha os documentos necessários, e até os conseguirem, a mãe Anja já estaria perto dos 9 meses de gestação, e impossibilitada de viajar.
Os bebés nasceram de parto normal no Hospital Nacional Simão Mendes, em Bissau, e agora com 1 mês de vida, estão com a mãe Anja na Associação Céu e Terra, a aguardar a deslocação para o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, em Portugal, onde o bebé com a malformação cardíaca congénita será seguido.
A formação em Ecografia Obstétrica, ministrada pela Dr.ª Patrícia Silva, especialista portuguesa em Ginecologia e Obstetrícia, do Hospital Nélio Mendonça na Madeira, foi dividida em duas fases: o primeiro ciclo decorreu em novembro de 2018 e o segundo e último ciclo foi realizado em maio de 2019. A formação teve como objetivos fornecer competências específicas ao nível da realização de ecografias obstétricas, reforçando o uso dos recursos técnicos existentes para o efeito e disponibilizados pelo projeto.
“Esta formação ajudou bastante as grávidas, fizemos muitas ecográficas às grávidas, e acabámos por detetar algumas malformações nos fetos, por exemplo, detetámos uma malformação cardiogénica, um feto com problemas cardíacos. Neste momento, a família está a tratar da documentação necessária para poder ir para Portugal, onde o bebé fará uma cirurgia”, conta o Dr. Ronízio Bathy. De salientar que este tipo de malformação, quando corrigida cirurgicamente no período pós-natal, permite uma maior sobrevida.
O médico Dr. Ronízio Bathy acrescenta. “O nosso hospital [Hospital Regional de Gabu] recebe muitos casos de eclampsia, grávidas com hipertensão arterial, que dão convulsões, e também recebemos muitos casos de pediatria, crianças com anemia e paludismo grave, e o nosso objetivo principal é reduzir a mortalidade materna e infantil”.
O PIMI II tem como objetivos contribuir para a redução das mortalidades materna, neonatal e infantojuvenil na Guiné-Bissau e, em particular, para o alcance das metas traçadas nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), e assegurar um melhor acesso a cuidados de saúde de qualidade a mulheres grávidas e puérperas (até 45 dias após o parto) e crianças até aos 5 anos na Guiné-Bissau.
A Guiné-Bissau apresenta indicadores particularmente alarmantes ao nível da saúde materna e infantil, registando taxas de mortalidades materna e infantil das mais elevadas do mundo. Neste contexto, cabe ao IMVF cobrir as necessidades formativas em várias valências e assistenciais num universo nacional de 132 hospitais regionais e centros de saúde, assegurando também a disponibilização e distribuição de medicamentos essenciais, equipamentos e consumíveis médicos e garantindo, ainda, a realização de reabilitações e manutenções nas infraestruturas dos hospitais e centros de saúde do país.
O programa beneficia diretamente cerca de 200 mil crianças menores de 5 anos, cerca de 300 mil mulheres em idade fértil e 70 mil mulheres grávidas, e mais de 950 profissionais de saúde das 117 áreas sanitárias do país. A ação beneficiará indiretamente a totalidade da população da Guiné-Bissau (1.565.815 habitantes).
A componente a cargo do IMVF neste projeto tem um orçamento de 8 milhões de euros e é financiada a 90% pela União Europeia contando, ainda, com o apoio do Camões, I.P.