Chegados a julho e a Guiné-Bissau continua a sentir os efeitos da pandemia COVID-19. Infelizmente é um cenário que se repete a nível mundial, embora com variações de país para país. Porém, já em março de 2020, a Ação Ianda Guiné! Galinhas iniciou um processo de fabrico local de máscaras de proteção individual, dando assim um contributo para sensibilizar, prevenir e minimizar os efeitos da pandemia causada pelo coronavírus junto da comunidade local.
A equipa técnica da Ação elaborou o desenho e sistematizou os processos para o fabrico, distribuição e utilização de máscaras reutilizáveis em tecido, equipamento de proteção individual (EPI) concebido inicialmente para avicultores e equipas de intervenção sanitária.
As máscaras reutilizáveis em tecido tiveram como objetivo inicial proteger as equipas de trabalho contra os danos causados por poeiras e agentes em suspensão existentes nos aviários em que trabalham. Tratando-se de um equipamento de proteção individual essencial na atividade avícola. Em países como a Guiné-Bissau, o acesso a este equipamentos de proteção é muito difícil, pois a sua disponibilização pública é presentemente muito limitada. Nesse sentido, foi premente desenvolver um EPI reutilizável, de fabrico local e acessível a qualquer utilizador.
Com o aparecimento dos primeiros casos suspeitos de contágio com o coronavírus “COVID-19” na Guiné-Bissau, a Ação Ianda Guiné! Galinhas sentiu a necessidade de acelerar o processo de fabrico do EPI, tendo produzido e aperfeiçoado os primeiros moldes da máscara a 16 de março de 2020, em colaboração com a equipa de uma alfaiataria comunitária de Antula, na cidade de Bissau.
Durante todo o processo foram tidas em conta as sugestões de vários profissionais da área da saúde, nomeadamente com apoio da coordenação clínica do projeto PIMI II – Programa Integrado para a Redução da Mortalidade Materna e Infantil, implementado pelo IMVF na Guiné-Bissau, tendo em vista perceber a viabilidade da utilização desta máscara e aperfeiçoar a sua produção.
Com a devida adequação das novas máscaras e a revisão do processo de fabrico, o projeto promoveu a manufatura das primeiras 500 unidades que seriam doadas, inclusive a Organizações Não Governamentais para o Desenvolvimento (ONGD) ligadas à área da saúde. A par dos equipamentos em si, foram igualmente disponibilizados a estas ONGD moldes do EPI para que estas por sua vez pudessem promover a replicação deste modelo nas regiões onde operam.
Chiara Guidetti, encarregada de programas da União Europeia (Seção de Governação e Desenvolvimento Socioeconómico) afirmou:
“É com muita alegria que em pleno dia da Europa [9 de maio], reencaminho a circular do PAM (Programa Alimentar Mundial das Nações Unidades) e da OMS (Organização Mundial da Saúde) com os documentos sobre as máscaras de pano”.
Segundo Chiara:
“A OMS emitiu um guia em inglês para o uso das máscaras inicialmente desenvolvidas pela “Ação Ianda Guiné! Galinhas”. Por fim, concluiu com “parabéns pela iniciativa e compromisso!”.
Com efeito o PAM divulgou:
“O modelo das máscaras em tecido revisto e aprovado pela OMS para produção e uso, originalmente preparado pelos colegas da União Europeia, Mani Tese e IMVF”.
Leia a nota explicativa sobre o processo de fabrico, utilização, limpeza e esterilização da máscara em tecido aqui.
A par desta iniciativa, e atendendo a que a Ação Ianda Guiné! Galinhas tem enfoque na área da avicultura, cedo se percebeu que as medidas de confinamento e a crise económica que outros países já estavam a viver iria afetar a Guiné-Bissau. E que nesse sentido era necessário reforçar a capacidade de produção de ovos e frangos por parte das duas empresas especializadas em avicultura apoiadas pela Ação, a CEDAVES em Antula e a Piu Piu Awara em Canchungo para, por um lado, responderem à procura e, por outro, melhorarem os processos de entrega inclusive ao domicílio, antecipando a situação de confinamento.
Neste sentido, foi estabelecido um plano de ação com base em pressupostos de oferta e procura e foram revistas em conformidade as necessidades de produção com o aumento do acesso aos fatores de produção, a reorganização dos serviços e dos recursos humanos das empresas e os planos de distribuição que garantissem desde logo a inserção das novas máscaras a proteção individual junto dos colaboradores das empresas e produtores comunitários. Foram adquiridas 2.000 galinhas poedeiras que possibilitaram o aumento da produção de ovos em resposta ao aumento da procura. Com efeito, a pandemia provocou o aumento exponencial da procura de ovos por parte das famílias. O projeto apoiou igualmente a mobilidade das empresas e dos seus colaboradores quando entraram em vigor medidas mais restritivas de circulação de modo a que não fossem particularmente penalizadas, contribuindo ao mesmo tempo para evitar o agravamento da crise alimentar que se faz sentir no país.
A Ação Ianda Guiné! Galinhas promoveu o desenvolvimento de materiais de divulgação para facilitar o processo de encomendas de ovos e frangos, designadamente de forma organizada e antecipada precisamente para, por um lado, responder à procura e, por outro, gerir a afluência de clientes aos locais de venda.
A Ação Ianda Guiné! Galinhas contribui para a estruturação da fileira avícola na Guiné-Bissau, promovendo oportunidades de desenvolvimento socioeconómico na Guiné-Bissau. Para além de apoiar o desenvolvimento destas empresas, vai apoiar novos avicultores, bem como dinamizar serviços complementares aos criadores e para a fileira avícola (associativismo entre avicultores, rede de paraveterinários, formação, cuidados sanitários, rede de farmácias paraveterinárias, etc.).
Na área sanitária, antecipando o início da estação das chuvas, causa do aumento substantivo da mortalidade das aves, foi desenvolvida uma segunda campanha de vacinação contra a doença de Newcastle e a gripe aviária, entre 13 e 29 de maio de 2020, abrangendo 10.957 galinhas, assegurando-se, assim, um importante apoio a 166 famílias de avicultores. Para além do apoio às famílias, foram igualmente apoiadas as duas empresas sociais especializadas em avicultura, a Piu Piu Awara (Canchungo) e a CEDAVES (Antula), tendo sido vacinadas 3.236 aves contra a doença de Newcastle e 1.900 aves contra a gripe aviária. No total, foram vacinadas 16.093 aves na Guiné-Bissau. E, por fim, foram promovidas sessões de esclarecimento sobre a pandemia COVID-19, nomeadamente sobre os cuidados e medidas a adotar para a prevenção da mesma, tendo sido distribuídas máscaras aos avicultores visitados durante a campanha de vacinação.
O Ianda Guiné! é um programa da União Europeia desenvolvido em parceria com 8 ações complementares, coerentes e harmonizadas que concorrem para o mesmo objetivo: promover soluções para problemas sociais e novas oportunidades económicas.