O nosso sistema alimentar tem uma enorme influência e impacto nas alterações climáticas e nas migrações. Para garantir uma mudança sustentável de atitudes e comportamentos é preciso analisar e entender o impacto dos sistemas de produção e consumo alimentar e evidenciar as interligações, para que possamos orientar e priorizar a nossa ação para a promoção de um mundo mais justo, digno e inclusivo.

Alimentação (in)sustentável, foi o mote da primeira sessão do YouthLab Our Food. Our Future, que decorreu no dia 16 de março de 2021, das 17h30 às 18h30 (hora de Lisboa), em formato online, em direto do Facebook do IMVF.

Este YouthLab, promovido no âmbito da campanha #GoEAThical – Our Food. Our Future em parceria com o projeto #CoerênciaNaPresidência, moderado por José Luís Monteiro, da Oikos – Cooperação e Desenvolvimento, contou com a presença de Marcel Gomes, da Repórter Brasil, e de Susana Fonseca, da ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável.

Com foco no setor da pecuária e da carne bovina no Brasil, Marcel Gomes destacou a importância económica do setor para o Brasil, que é o maior exportador de carne bovina a nível mundial, e os seus impactos a nível social, ambiental e dos trabalhadores, nomeadamente a violação dos direitos humanos, através do trabalho escravo, e a desflorestação ilegal da Amazónia.

Com base no Relatório Filé nos supermercados, floresta no chão da Repórter Brasil, realçou a importância de perceber os fluxos das cadeias produtivas e a corresponsabilidade dos intervenientes das mesmas. As empresas no Brasil estão a criar políticas corporativas para monitorizar a cadeia produtiva e nos últimos 10 anos houve uma grande evolução nesse sentido, no entanto Marcel Gomes chamou à atenção para um grande problema que se mantém relacionado com os fornecedores indiretos

O orador alertou ainda para a falta de legislação internacional que obrigue as empresas a cumprir e a assumir a sua responsabilidade nas cadeias produtivas, com especial incidência nas empresas que operam a nível internacional. E, para terminar a sua intervenção, Marcel salientou que os dois grandes objetivos da Repórter Brasil são a monitorização total das cadeias produtivas e o combate à fraude.

Susana Fonseca, da ZERO, começou a sua participação neste YouthLab destacando a importância das alterações estruturais em termos da legislação e regulamentação, mas também realçando a importância de estar em contacto com as pessoas, pois mesmo os consumidores informados não têm acesso a informação fidedigna em tempo útil que lhes permita adotar comportamentos mais sustentáveis.

A oradora referiu o papel fundamental da União Europeia enquanto promotora de um enquadramento mais proativo na defesa dos direitos humanos e dos trabalhadores e também das questões ambientais. Neste sentido, trouxe-nos uma nova perspetiva relacionada com as alterações climáticas, dizendo que são o resultado do nosso modelo de produção e consumo, acautelando que sem alterar esse contexto, não é possível agir de forma significativa no combate às alterações climáticas.

Quando falamos em desenvolvimento sustentável e sustentabilidade falamos de 3 pilares: componente ambiental; componente social; e componente económica. No entanto, de acordo com a nossa oradora, a componente limitante é a ambiental, pois mesmo com toda a eficiência que conseguimos introduzir nos processos e nos equipamentos não conseguimos reduzir a nossa pegada ecológica, uma vez que apesar de termos equipamentos mais eficientes, temos em maior número.

Por último, salientou a importância de nos questionarmos sobre os nossos comportamentos e escolhas e partilha uma mensagem de incentivo à ação, reforçando que apesar da grande responsabilidade estar na componente estrutural, nas empresas e nas políticas, o consumidor também tem o seu papel ao pressionar os decisores políticos, pois a mobilização social leva os decisores políticos a agir, e a agir mais rápido.

A sessão terminou com um debate durante o qual os participantes tiveram oportunidade de colocar várias questões aos oradores, nomeadamente, se os impactos negativos da indústria alimentar mobilizam a sociedade brasileira, qual o papel que os consumidores podem ter para impedir o trabalho escravo e a violação dos Direitos Humanos na cadeia produtiva e de distribuição, assim como quais são os modelos de produção e consumo alternativos e quais as opções mais eficazes para uma mudança de comportamentos, e ainda qual o destaque que os media no Brasil dão a estas questões. Questões que pode ver respondidas na gravação do webinar disponível aqui.

A segunda sessão do YouthLabs acontecerá no dia 30 de março, das 17h30 às 18h30 (hora de Lisboa), e será dedicada ao tema O papel da sociedade civil no combate ao trabalho escravo contemporâneo.

A partir da dinamização destas sessões procuraremos reforçar o conhecimento e a mobilização dos demais atores do desenvolvimento na adoção de estilos de vida mais éticos e sustentáveis.

Sabe mais sobre a campanha #GoEAThical – Our food. Our Future aqui.

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