No passado mês de junho e julho esteve em cena nos Recreios da Amadora a peça “Todas as tuas lágrimas não serão suficientes”, uma produção do Teatro dos Aloés em parceria com o projeto People & Planet. Esta peça oferece uma profunda reflexão sobre a questão da escassez de água e a sustentabilidade. 

Desde o início da peça que somos confrontados com uma situação fictícia, mas que, infelizmente, já não é assim tão distante como seria desejável: não existe mais água potável. A partir daí, através de uma narrativa que nos confronta com a nossa própria relação com o meio ambiente, a peça expõe os diversos fatores que contribuem para a escassez de água, desde a quebra do ciclo natural da água e o uso excessivo para consumo pessoal, industrial e na agricultura, até ao desperdício alimentar e da pegada hídrica dos produtos que todos os dias consumimos. 

A obra não se limita a apontar apenas os problemas mais imediatos – ela explora também as interconexões entre a escassez de água e o agravamento das próprias alterações climáticas, abordando questões como a desflorestação e a urbanização descontrolada. A destruição do mundo natural é assim apresentada como um fator que não só agrava a disponibilidade de recursos hídricos, como também faz com que as suas consequências sejam mais impactantes. 

Ao mesmo tempo que a narrativa vai revelando o papel do ser humano no agravamento da escassez de água, somos também confrontados com as severas consequências da falta deste recurso essencial. Embora faça parte do desejo humano assegurar o acesso à água, aumentando a sua disponibilidade, aliviando assim o fardo das crianças e mulheres que ainda atualmente precisam de buscar água em fontes comunitárias, e possibilitando a eliminação de doenças propagadas pelo consumo de água não-potável, ao consumirmos mais água do que o ciclo natural consegue repor, essa escassez ameaça trazer ainda mais fome, pobreza e um aumento das desigualdades. 

Uma dimensão particularmente interessante da peça é a reflexão sobre o conflito interno entre a intenção de sermos mais sustentáveis, a inércia de alterarmos os nossos hábitos, e o desejo de consumo inerente a vivermos numa sociedade materialista. Na peça, esse choque é analisado de forma crítica, o que convida o público a refletir sobre suas próprias escolhas e comportamentos, destacando a necessidade urgente de mudanças individuais e coletivas em prol da sustentabilidade. No fim, o público percebe que não é preciso abdicar do seu conforto e qualidade de vida para diminuirmos o impacto no ambiente: é somente necessário ajustar as nossas práticas para encontrar o equilíbrio de um consumo mais responsável. 

A peça “Todas as tuas lágrimas não serão suficientes” incluiu também na sua produção jovens da Amadora. Ao trazer a reflexão destes jovens para cena, o espetáculo tornou-se um exemplo ainda mais forte de como as artes podem ser um poderoso veículo para a consciencialização e a educação ambiental. Ao conectar o público emocionalmente com os desafios da sustentabilidade, o teatro pode inspirar mudanças reais e duradouras. Esta produção não só entretém e sensibiliza, como também educa e motiva, demonstrando assim que a arte tem um papel crucial na promoção de uma sociedade mais sustentável. 

 

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O People and Planet: A Common Destiny é um projeto pan-europeu de mobilização de jovens cidadãos e autoridades glocais no combate às Alterações Climáticas. É financiado pela União Europeia através do Programa DEAR, com cofinanciamento do Camões, I.P., envolvendo 17 organizações (autoridades locais e OSC) de 8 Estados-membros da UE e Cabo Verde, sob a coordenação da Câmara Municipal de Loures. Em Portugal, o projeto é implementado pelo consórcio composto pela Câmara Municipal de Loures, pelo IMVF, pela RICD e pela FUEL.

Fotografias: Luana Santos / Teatro dos Aloés 

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