No âmbito da ação “Apoio às Comunidade de Café”, o Projeto de Apoio às Fileiras Agrícolas de Exportação de São Tomé e Príncipe (PAFAE) tem como objetivo o fomento da produção hortícola biológica. Para isso, têm sido desenvolvidas ações de promoção de alternativas à utilização de produtos fitossanitários de síntese, em formato de ações formativas e de sensibilização, permitindo reduzir a sua utilização na produção hortícola. Este objetivo prende-se essencialmente com a proximidade das parcelas de produção hortícola às plantações de café, o que pode pôr em causa a certificação biológica, sendo reconhecida a pressão exercida pela produção hortícola sobre os sistemas agroflorestais, nomeadamente na zona de Monte Café (Mé-Zóchi).
Neste sentido, no passado mês de novembro, e integrado no plano formativo e de capacitação dos horticultores das comunidades de Mé-Zóchi, 6 horticultores e 3 técnicos do PAFAE deslocaram-se à zona sul do Brasil – Santa Catarina e Rio Grande do Sul, para realizarem um intercâmbio com organizações, horticultores e agricultores ecologistas locais. A troca de conhecimento técnico na gestão da produção biológica de hortaliças, o contacto com os canais de mercado para as hortaliças biológicas e o contacto direto com produtores certificados pelo Sistema Participativo de Garantia (SPG) foram os três grandes objetivos do intercâmbio, alcançados com sucesso.
Um intercâmbio que, ao longo de duas semanas, permitiu aos participantes assistirem a formações, visitarem projetos sociais inovadores, participarem em feiras agroecológicas, conhecerem o dia-a-dia de famílias horticultoras biológicas, visitarem cooperativas, entre muitas outras atividades. Tudo isto tocando em temáticas tão diversas como: o Sistema de Plantio Direto de Hortaliças (SPDH), gestão de resíduos orgânicos e compostagem, transição agroecológica, SPG e canais de mercado, biofertilizantes, sistema de aquaponia, agrofloresta e ambientes protegidos. Percebeu-se que os intercâmbios entre pares continuam a ser uma das melhores formas de aprendizagem, e que o conhecimento técnico sobre a produção biológica está muito consolidado, mas há uma grande necessidade de aplicar este conhecimento à realidade são-tomense. Concluiu-se, ainda, que os produtos hortícolas biológicos precisam de diferenciação de preço para serem rentáveis e que as feiras são um excelente meio de garantir essa diferenciação mesmo no contexto são-tomense. Reforçou-se, por fim, que a certificação participativa através do SPG é a mais vantajosa para os agricultores associados, uma vez que melhora a capacidade de gestão e planeamento dos agricultores.
O intercâmbio culminou num encontro já em São Tomé – Horticultura Biológica em São Tomé e Príncipe – Que futuro e que caminho a seguir?, que contou com a presença de todos os horticultores beneficiários do PAFAE, do representante do Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, do Encarregado de Programas da União Europeia em São Tomé e Príncipe, da Adida para a Cooperação da Embaixada de Portugal em São Tomé e Príncipe, de ONG locais e de potenciais compradores. No final, houve espaço para o debate em torno do tema.
A organização e preparação do intercâmbio foi realizada em parceria com a ONG Oikos-STP, e destacam-se os seguintes parceiros locais: a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), o Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa Catarina (CCA-UFSC), o Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo (Cepagro), Sítio Dom Natural, o projeto social “A Revolução dos Baldinhos“, o Centro Ecológico (CE), a Econative, a Ecotorres, a Coopet, a Rede Ecovida de Agroecologia, a Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o Assentamento Filhos de Sepé e a Cooperativa dos Produtores Orgânicos de Reforma Agrária de Viamão (Cooperav).
O Projeto de Apoio às Fileiras Agrícolas de Exportação de São Tomé e Príncipe (PAFAE) é financiado pela União Europeia, cofinanciado pelo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, I.P. e implementado pelo IMVF em parceria com o Ministério da Agricultura, Pesca e Desenvolvimento Rural de São Tomé e Príncipe.